TÍTULO COMPLETO: Protocolo de acolhimento e classificação de risco para serviço ambulatorial especializado no idoso em nível de atenção secundário
INTRODUÇÃO
O Modelo de Atenção à Saúde Integral da Pessoa Idosa no SUS propõe a organização da atenção e ampliação do acesso qualificado da população idosa com organização do cuidado em rede demandada pela Atenção Básica, considerando como ponto de partida a capacidade funcional considerando o risco de fragilidade existente e o seu grau de dependência (capacidade de execução), buscando a maior autonomia (capacidade de decisão) possível do idoso. O Decreto Nº 61.831 do Governo Estadual de São Paulo, de 11 de fevereiro de 2016 cria o Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Idoso (AME Idoso Sudeste). Em seu Artigo 2º define sua finalidade: - O "Ambulatório Multidisciplinar Especializado no Idoso - AME Idoso Sudeste" tem por finalidade prestar assistência global à saúde do idoso, aos pacientes do Sistema Único de Saúde - SUS, no âmbito de sua abrangência. O planejamento institucional do cuidado precisa prever a carga de serviços para evitar demanda reprimida, falta de vagas e sobrecarga do sistema com sucateamento da atenção. O principal problema no AME Idoso Sudeste nessa circunstância é a demanda reprimida por retorno na unidade sem caracterização de prioridade ou riscos. No AME Idoso Sudeste, inaugurado em julho de 2016, os pacientes eram atendidos conforme agendamento, e, após triados, aguardavam retorno em fila não qualificada, exceto em casos especiais sinalizados pela equipe assistencial. A abordagem fragmentada do idoso é uma das principais causas de iatrogenia com maus resultados clínicos, desperdício de recursos e desgaste individual e da família. A compreensão de conceitos de fragilidade, perda funcional e comorbidades dos idosos deve substanciar as ações propostas, já que há sobreposição dessas condições. O Acolhimento com Classificação de Risco é uma ação técnico-assistencial que pressupõe a mudança da relação entre profissional e usuário através de parâmetros técnicos, éticos, humanitários e de solidariedade, conforme a Política Nacional de Humanização. Apesar da classificação de riscos ser geralmente associada ao atendimento de urgências e emergências, trata-se de uma prática aplicável a todos os níveis de atenção à saúde. O projeto de acolhimento e classificação de risco do idoso atendido no AME Idoso Sudeste foi elaborado visando solucionar o problema principal de entrada sequencial de pacientes no ambulatório de geriatria sem conhecimento da gravidade e urgência. E como problema secundário temos a formação de filas desqualificadas com demandas diversas, o que dificulta a boa gestão de agendas, dimensionamento de pessoas e boa qualidade e segurança do paciente em seu atendimento.
OBJETIVOS
- O objetivo geral foi elaborar protocolo de acolhimento com classificação de risco em geriatria para idosos atendidos em ambulatório especializado em idoso no nível de atenção de média complexidade baseada na mortalidade e funcionalidade;
- Nosso objetivo específico foi elaborar fluxos de atendimento e de encaminhamentos conforme classe de risco e critério de inclusão do paciente na unidade. Desejamos reduzir o impacto de pacientes graves piorarem clinicamente enquanto aguardam consulta, formando fila desqualificada para retorno e falta de vagas para atendimento de modo a garantir equidade, alta resolutividade, atenção humanizada com uso racional de recursos.
METAS
- Protocolo estabelecido e fluxos implantados em 6 meses;
- Classificação de 100% dos pacientes novos com consulta agendada na geriatria;
- Avaliação gerontológica de 100% dos pacientes realizada pela equipe multiprofissional.
PÚBLICO-ALVO
O público alvo do projeto são pacientes idosos da Rede de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa do município de São Paulo e municípios adjacentes.
NÚMERO DE PARTICIPANTES
6405
DIVULGAÇÃO
Por meio de treinamento da equipe assistencial e administrativa dentro da unidade. O projeto foi divulgado para a rede municipal através de reuniões com interlocutores das coordenadorias e supervisões municipais e reunião intersecretarial.
ATIVIDADES
Foi elaborado protocolo de classificação de risco em geriatria baseado na mortalidade em 1 ano e funcionalidade. Foram elaborados fluxos de atendimento e encaminhamentos dos pacientes conforme classificação de risco. A sequência para elaboração deste projeto de intervenção em classificação de risco do idoso atendido no AME Idoso Sudeste seguirá as seguintes fases:
1) Elaboração de classificação de risco em geriatria com base em dados de literatura Classificação de risco dos pacientes da geriatria:
ALTO RISCO
- Síndrome Consumptiva (perda de 5% do peso ou mais em 3 meses ou 10% em 6 meses);
- Internação recente com menos que 30 dias da alta hospitalar.
MÉDIO RISCO
- Idade de 90 anos ou mais;
- Piora de sintomas comportamentais e psicológicos de demência;
- Três ou mais doenças crônicas descompensadas e com complicações;
- Caidor crônico (2 ou mais quedas no último ano);
- Internação recente com 30 a 60 dias da alta hospitalar;
- Outro critério (decisão do geriatra).
BAIXO RISCO
- Depressão;
- Doença de Parkinson;
- Demência;
- Sequela de AVC;
- Distúrbio de marcha e/ou equilíbrio;
- Perdas sensoriais limitantes – visão ou audição;
- Polifarmácia (5 ou mais medicações de uso crônico) ou medicação inapropriada.
2) Elaboração de protocolos de atendimento para cada classe de risco:
FLUXOS: Todos os casos são gerenciados por enfermeiros gerentes da linha de cuidado GERIATRIA, que fazem os agendamentos, orientações e acompanhamento dos casos. Cada gerente é responsável por uma carteira de pacientes, organizados por horários e atrelados a médicos geriatras.
FLUXOS DO PROTOCOLO DE ALTO RISCO
Protocolo de exames: laboratório de investigação de causas de síndrome consumptiva, raio X, Ultrassom de abdômen, eletrocardiograma – resultados até 14 dias. Avaliação multiprofissional em até 14 dias: avaliação familiar/ social e cuidador, escala de Katz, escala de Lawton, avaliação muscular, Mini-exame do estado mental (MEEM), GDS (Escala de depressão geriátrica de Yesavage). Avaliação nutricional em até 14 dias. Avaliação odontológica em até 14 dias. Retorno na geriatria para avaliação em 14 dias. Se suspeita de neoplasia: investigação específica e encaminhamento para Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer. Se não houver suspeita de neoplasia: diagnóstico etiológico e tratamento. Retorno na geriatria e encaminhamentos para especialidades conforme demanda. Acompanhamento de desfechos: morte ou internação hospitalar. Critérios de alta: Diagnóstico de neoplasia com encaminhamento para a rede, causa base tratada e paciente clinicamente compensado, ganho ou estabilidade de peso por 6 meses.
FLUXOS DO PROTOCOLO DE MÉDIO RISCO
Protocolo de exames: laboratório – resultado em até 28 dias. Avaliação gerontológica interdisciplinar em até 28 dias: avaliação familiar/ social e cuidador, escala de Katz, escala de Lawton, avaliação muscular, triagem nutricional – Mini Avaliação Nutricional. Se caidor crônico: avaliação oftalmologia, avaliação otorrinolaringologia Retorno na geriatria para avaliação em até 28 dias. Retorno na geriatria e encaminhamentos para especialidades conforme demanda. Acompanhamento de desfechos: morte ou internação hospitalar. Critérios de alta: causa base tratada e paciente clinicamente compensado, sem quedas por 6 meses.
FLUXOS DO PROTOCOLO DE BAIXO RISCO
Protocolo de exames: laboratório – resultados em até 56 dias. Avaliação gerontológica interdisciplinar em até 56 dias: avaliação familiar/ social e cuidador, escala de Katz, escala de Lawton, avaliação muscular, triagem nutricional – Mini Avaliação Nutricional, Mini-exame do estado mental (MEEM). Retorno na geriatria para avaliação em até 56 dias. Retorno na geriatria e encaminhamentos para especialidades conforme demanda. Acompanhamento de desfechos: morte ou internação hospitalar. Critérios de alta: causa base tratada e paciente clinicamente compensado.
SITUAÇÕES DE ALERTA: perda imotivada de peso entre consultas, internações hospitalares ou passagens por serviços de urgência/emergência, 2 ou mais quedas em 6 meses, disfagia, piora abrupta da capacidade funcional e/ou cognitiva, fraturas, dor nova. Na presença de alguma situação de alerta em qualquer consulta – investigar etiologia e redefinir plano terapêutico.
3) Implantação do instrumento de classificação de risco e protocolos de atendimento:
• Planejamento de agendas médicas de acolhimento com classificação de risco em geriatria;
• Planejamento das agendas de enfermagem de acolhimento e gerenciamento da linha de cuidado;
• Planejamento das agendas de profissionais para avaliação gerontológica;
• Treinamento da equipe médica no uso do instrumento de classificação de risco;
• Treinamento da equipe de enfermagem em fluxos, planos terapêuticos e gerenciamento das linhas de cuidado;
• Treinamento dos profissionais especialistas em gerontologia para aplicação da avaliação gerontológica e fluxos de atendimento;
• Implantação do protocolo de acolhimento e classificação de risco em geriatria
4) Acompanhamento da fase piloto:
• Elaboração de planilha de registros e controle;
• Acompanhamento dos marcadores e indicadores operacionais do protocolo: número de pacientes de cada classe de risco, tempo entre acolhimento e agendamento de exames para cada classe de risco, tempo entre acolhimento e realização da avaliação gerontológica, porcentual de pacientes atendidos dentro dos prazos estipulados, tempo entre acolhimento e consulta com geriatra, número de pacientes de alto risco com diagnóstico de neoplasia, porcentagem de inclusão de casos de câncer nos protocolos específicos da rede de atenção ao paciente com câncer.
5) Análise dos dados e revisão do protocolo:
• Análise dos marcadores e indicadores: porcentagem de alto risco, porcentagem de médio risco, porcentagem de baixo risco, tempo entre classificação de risco e consulta na geriatria por classe de risco, taxa de cumprimento de protocolo de tempo entre classificação de risco e consulta na geriatria por classe de risco, porcentagem de pacientes com câncer, porcentagem de inclusão na Rede Hebe Camargo de Assistência ao Paciente com Câncer no prazo do protocolo, taxa de alta, tempo entre acolhimento e alta;
• Reuniões da equipe interdisciplinar para alinhamento de fluxos;
• Reuniões semanais da equipe interdisciplinar com duração média de 60 minutos para discussão de casos, fluxos de atendimento, revisão de protocolo, alinhamento de condutas e estudo de literatura para referência.
EQUIPE
01 Coordenadora de gerontologia
04 Médicos geriatras (acolhimento e classificação de risco)
12 Médicos geriatras (atendimento das linhas de cuidado)
18 Técnicos de enfermagem
07 Enfermeiros
03 Fisioterapeutas
01 Nutricionista
01 Terapeuta ocupacional
01 Fonoaudiólogas
01 Psicóloga
02 Assistentes Sociais
01 Educador Físico
EQUIPAMENTOS E RECURSOS FINANCEIROS
Não houve necessidade de recursos físicos além dos utilizados rotineiramente:
- 01 sala de enfermagem para pré-consulta;
- 01 consultório médico;
- 01 consultório de enfermagem;
- 01 sala para avaliação gerontológica.
Não houve investimento de recursos financeiros. Houve alocação de horas de trabalho da equipe gestora e assistencial para elaboração do projeto.
RESULTADOS
Este projeto trouxe melhoria em organização do serviço, otimização do uso dos recursos e principalmente atenção especializada oportuna e justa aos pacientes idosos na atenção de média complexidade. Decorrente deste projeto deverão ainda acontecer encontros com a rede de assistência à saúde do idoso para ajustes de fluxos de referência e contra referência com estabelecimento do papel da unidade dentro da complexa rede. Protocolo elaborado e fluxos estabelecidos. Classificação de 100% dos pacientes novos da geriatria com gerenciamento dos casos. Avaliação gerontológica multiprofissional dos pacientes conforme classificação de risco.