TÍTULO

Saber envelhecer: uma experiência na atenção primária.

INTRODUÇÃO

Os processos de transição demográfica e epidemiológica possuem abrangência mundial, com o envelhecimento populacional e mudança dos perfis de morbimortalidade, com a predominância das doenças crônicas não-transmissíveis. Tendo em vista as demandas evidenciadas por essa nova realidade, a assistência ao idoso não deve limitar-se aos meios tecnológicos e à assistência complexa, pois isso desvaloriza a natureza biopsicossocial intrínseca às necessidades de saúde. Desse modo, devido ao contexto semelhante apresentado em Arenoso, reconhecido pela equipe de saúde da família e observado através da grande participação dos idosos da comunidade nos projetos de promoção de saúde e a emergência de questões como a sexualidade e autoestima, houve a iniciativa de realização dessa experiência, no intuito de, a partir dessas necessidades, em uma perspectiva que visa promoção de saúde de forma interdisciplinar, de modo a contemplar toda a complexidade dos sujeitos. Assim, o projeto tem como objetivo desenvolver ações de Educação Popular em Saúde com base nas demandas que emergiram dos discursos dos idosos em fase prévia de diagnóstico situacional, de modo a atender às necessidades de saúde evidenciadas. A experiência teve início em 2016 e até o momento 30 idosos participaram.

OBJETIVOS

• Promover o envelhecimento ativo através de atividades lúdicas que proporcionem maior autonomia e proatividade dos participantes;
• Proporcionar a criação e o fortalecimento de vínculos, visando maior interação e inserção social dos participantes;
• Estimular o protagonismo da comunidade assistida, enfatizando a produção de saúde de forma não patológico-centrada, com foco nos determinantes sociais;
• Realizar atividades de cunho esportivo, artístico e cultural, com base nos saberes prévios dos idosos, de modo a evidenciar suas potencialidades;
• Estimular o envolvimento da comunidade assistida na sua autogestão, enfatizando a produção de saúde de forma não assistencialista, com foco nos determinantes sociais;
• Realizar ações de Educação Popular em Saúde com base nas demandas que emergiram dos discursos dos idosos no diagnóstico situacional, de modo a atender às necessidades de saúde evidenciadas;
• Promover o envelhecimento ativo através de atividades lúdicas que proporcionem maior autonomia e proatividade dos participantes;
• Proporcionar a criação e o fortalecimento de vínculos, visando maior interação e inserção social dos participantes;

PÚBLICO-ALVO

Idosos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes no bairro de Arenoso e devidamente cadastrados nas microáreas de cobertura da Unidade de Saúde da Família. A maioria dos participantes constitui-se de mulheres, robustas ou em riscos de fragilização

DIVULGAÇÃO

Entre as estratégias de divulgação, foram realizados convites pelos agentes comunitários de saúde nas residências dos idosos e pelos outros profissionais da Unidade de Saúde da Família em momentos de consulta. O convite foi aberto para os idosos do Bairro Arenoso. Uma vez existindo o interesse na participação, era agendada uma entrevista com o idoso para coleta de dados sociodemográficos (endereço, telefone, nome do agente comunitário responsável por sua microárea.

ATIVIDADES

Foram realizadas ações de natureza educativa e promotora de saúde, de forma horizontalizada, por meio de atividades programadas em conjunto com os diversos profissionais da equipe de Estratégia de Saúde da Família da unidade. O projeto oferece atividades que visam promover a reflexão acerca dos determinantes sociais e seus impactos nas condições de saúde dos idosos, utilizando seus saberes para desenvolver a autopercepção de sua qualidade de vida e a ressignificação do processo de envelhecimento. As atividades foram conduzidas em alguns momentos apenas pelos profissionais da Unidade de Saúde da Família e em outros juntamente aos discentes e docentes da Universidade do Estado da Bahia.

As ações foram realizadas no Colégio Estadual Antônio Sérgio Carneiro e na Unidade de Saúde da Família. A organização se deu da seguinte forma:

Em 2016, as atividades foram divididas em 14 módulos/encontros, que foram realizados quinzenalmente, às sextas-feiras à tarde, durante um período de 6 meses (entre os meses de Julho/2016 a Dezembro/2016);

Em 2017, as atividades foram divididas em 18 módulos, tendo início em 10/03/2017 e término em 1/12/2017.

Em relação à parceria com o Departamento de Ciências da Vida - Área de Saúde Coletiva da Universidade do Estado da Bahia, as atividades foram realizadas quinzenalmente, às quintas-feiras pela manhã, em 4 momentos no segundo semestre de 2016 e em 5 momentos no primeiro semestre de 2017 (06/04; 27/04; 11/05; 25/05; e 08/06). Nos encontros eram proporcionados: · Escuta de experiências, relatos, angústias, saberes (era criado um ambiente acolhedor que permitisse o desenvolvimento dessa troca). · Piquenique, resgatando as experiências e lembranças da infância; · Confecção de porta - retrato, resgatando as memórias afetivas; · Palestras educativas sobre leis e direitos da pessoa idosa, processo de envelhecimento, doenças crônico-degenerativas, saúde bucal, autocuidado, sexualidade, entre outras temáticas; · Atividades manuais: confecção de porta-escovas, porta-medicamentos, chaveiros, customização de camisetas, fuxico, confecção de tapetes; · Atividades lúdicas: como peças teatrais, jogos, oficina de dança, oficina de música. · Realização de passeio cultural para a Ponta de Humaitá em Salvador-Bahia; · Atividades estéticas, resgatando nos idosos a vaidade e o autocuidado.

EQUIPE

• Saúde Bucal: 03 dentistas e 02 auxiliares de saúde bucal.
• Enfermagem: 03 enfermeiras (facilitadoras de oficina de resgate às memórias afetivas, com confecção de porta-retratos) e 02 técnicas de enfermagem (oficina sobre autocuidado com ênfase na higiene pessoal do idoso).
• Nutrição: 01 profissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (facilitadora de oficina de resgate à memória dos alimentos consumidos na infância, trabalhando a importância da alimentação saudável).
• Discentes e docentes da Universidade do Estado da Bahia: 02 docentes e 20 discentes (facilitadores de oficinas de atividades manuais e de artesanato (pintura de camisas, confecção de adereços, chaveiros, fantoches, fuxico), atividades físicas (oficina de dança), atividades de recreação (Baile dos anos 60), atividades culturais (teatro e passeio a pontos turísticos).
• Medicina: 04 profissionais (oficinas sobre agravos da automedicação, com confecção de porta-medicamentos; oficina sobre sexualidade).
• Agentes Comunitários de Saúde: 10 profissionais (oficina sobre sexualidade na velhice) Psicologia: 01 profissional (oficina sobre aspectos psicológicos do envelhecer) Residência Multiprofissional: 01 psicóloga (oficina sobre aspectos psicológicos do envelhecer), 01 assistente social (oficina sobre Leis e Direitos da Pessoa Idosa) e 01 fisioterapeuta (oficina de massagem nos pés).
• Terapia Ocupacional: 01 terapeuta, profissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (oficina sobre Mitos do Envelhecer).
• Educação Física: 01 profissional (oficina sobre ressignificação dos jogos na velhice).  Assistente Social : 01 profissional ( oficina sobre direitos da pessoa idosa e violência contra a pessoa idosa)
• Discentes e docentes da Universidade do Estado da Bahia: 3 docentes e 52 discentes (facilitadores de oficinas de atividades manuais e de artesanato (pintura de camisas, confecção de adereços, chaveiros, fantoches, fuxico), atividades físicas (oficina de dança), atividades de recreação (Baile dos anos 60), atividades culturais (literatura, teatro e passeio a pontos turísticos).

EQUIPAMENTOS

Colégio Estadual Sérgio Carneiro. Unidade de Saúde Família Professor Guilherme Rodrigues da Silva. Nestes ambientes eram disponibilizados recursos audiovisuais.

RECURSOS FINANCEIROS

Os custos das atividades realizadas pela coordenação do projeto foi : 30 reais para realização de cada encontro .Este valor era distribuído para compra de lanches, materiais de papelaria entre outros. Os custos das atividades realizadas em parceria com a Universidade do Estado da Bahia foram rateados entre discentes e docentes: · Alimentação: R$ 367, 74 (frutas, água mineral, copos descartáveis, sacos plásticos e papel toalha para todas as oficinas) · 1ª oficina de camisetas: R$ 144,92 (camisetas, tintas de tecido e pinceis) · Oficina de dança: Não houve custos relativos a essa oficina, exceto da alimentação, já listada acima. · Oficina de fantoches: Não houve custos, tendo havido recebimento de doações, exceto pela alimentação, já listada acima. · Oficina de teatro e música: Não houve custos, exceto pela alimentação, já listada acima. · Oficina para produção do figurino para o encerramento: R$ 56,00 (bolas para decorar, feltro, cola quente, fitas, embalagens para lembrancinhas) · Baile dos anos 60: R$ 76,20 (papel cartão; tesoura; papel ofício; cola; fita adesiva; papel laminado prata e dourado; piloto permanente; balão de bolinhas, preto e branco; balões rosa-choque; papel camurça; fita adesiva; fitas de cetim; cola; palitos de churrasco; cola quente) · Oficinas de Fuxico/Artesanato: R$ 279, 24 (tubos de linha branca e preta; agulhas; tiaras para customização; canetas de tecido; lantejoulas; botões; fitas de cetim; cola de tecido; cola quente; pacotes de pérola e meia-pérola e flores rosas (miçangas); aros de chaveiro; presilhas de cabelo; capas de almofadas, panos de prato, impressões coloridas, impressões pretas) · 2ª oficina de customização de camisetas: R$ 252,15 (camisetas, tubos de tinta relevo e canetas de tecido) · Passeio turístico para a Ponta de Humaitá: Não houve custos, exceto para a alimentação, já listada acima.

RESULTADOS

· Foi possível observar uma maior interação dos idosos entre si, havendo uma reinserção no espaço social; · Os relatos dos idosos expressam que as atividades realizadas proporcionam momentos de diversão, distração e aprendizado; · Observou-se mudança na postura dos idosos em relação a si próprios, com elevação da autoestima, incentivando o autocuidado; · As oficinas possibilitaram o protagonismo dos idosos, tendo estes não apenas conduzido o transcorrer das oficinas, como também mostrado maior autonomia em suas decisões do cotidiano; · Com o passar do tempo, os idosos passaram a se organizar para colaborar na logística das oficinas, dividindo-se para levar lanches para serem compartilhados, por exemplo; · Intercâmbio intergeracional na promoção de saúde, visto que os idosos, através do compartilhamento de seus saberes com as gerações mais jovens, desenvolvem suas potencialidades (muitas vezes escondidas) e estimulam nos jovens a prática do artesanato e a perpetuação de saberes ancestrais para próximas gerações; · Através da escuta qualificada, foi possível compreender melhor as questões biopsicossociais que circundam os idosos, de modo que as intervenções fossem planejadas a partir de suas reais necessidades, visando maior efetividade e impacto positivo em suas vidas.