Introdução O distanciamento social imposto pela pandemia da COVID-19 é uma condição de favorecimento para alterações comportamentais nos idosos, visto que, uma vez isolados, tornam-se mais vulneráveis aos determinantes sociais da saúde e, consequentemente, ao desenvolvimento ou complicações de doenças e agravos. Além disso, pode contribuir com o aumento do comportamento sedentário e da inatividade física, condições estas que trazem repercussões para as doenças físicas, mentais e para o risco de morte.
A falta mensurável de relacionamentos sociais pode comprometer de forma significativa os hábitos de vida de pessoas na terceira idade, tais como: gerenciamento de saúde (com uso de medicamentos), tabagismo, nutrição, atividade física e sono. Essas mudanças comportamentais corroboram com o avanço das alterações funcionais psicológicas, principalmente relacionadas à memória, pensamentos positivos, raciocínio e bem-estar. Tais variáveis relacionam-se à aquisição e/ou impactos na qualidade de vida durante a senescência.
Nesse sentido, as atividades que envolvem interações sociais são intervenções importantes para a saúde e o bem-estar dos idosos e, consequentemente, a redução dessas práticas impõe grandes desafios, sobretudo para a manutenção do envelhecimento ativo.
Objetivos - Estimular a formação de redes de relações entre os idosos do grupo de convivência;
- Incentivar o desenvolvimento de práticas corporais, meditação, atividades físicas e de lazer entre os idosos do grupo de convivência;
- Realizar orientações em saúde e monitoramento das condições clínico-funcionais dos idosos do grupo de convivência.
Público alvo O grupo é composto predominantemente por idosos do sexo feminino, idade entre 60 a 90 anos e com perfil 1 e 2 de funcionalidade, de acordo com a estratificação clínico funcional proposto pelo campo temático de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde.
Divulgação As atividades desenvolvidas pelo grupo de convivência são publicitadas por meio de informes durante as consultas médicas, odontológicas ou de enfermagem, ou ainda quando da ocasião dos Agentes Comunitários de Saúde nas visitas domiciliares.
Número de participantes 47
Atividades As reuniões acontecem semanalmente às quintas-feiras pela manhã, sendo o grupo dividido em dois subgrupos, o primeiro das 08:00h às 09:00 e o segundo das 09:00 às 10:00, com o objetivo de reduzir a aglomeração. Os idosos são recepcionados pela enfermeira na sala de reuniões da unidade de saúde, com a execução de atividades cognitivas de memória, artesanato, dança, alongamento e relaxamento, musicoterapia, massagens, avaliação dos pés, aplicação de escalas de rastreio ( Escala de Zarit, Escala de Depressão Geriátrica – GDS, VES-13, Escala de Katz, 10 Point Cognitive Screener e Escala De Lawton), testes de velocidade de marcha, exposição de vídeos, realização de testes rápidos para IST´S, verificação de glicemia capilar digital e orientações em saúde. Com o principal objetivo de reduzir a transmissão do Coronavírus, foi dado ênfase às boas práticas de higiene e saúde como lavagem das mãos, higiene alimentar e ambiental, uso correto da máscara facial. Ademais, as orientações em saúde seguem as demandas dos participantes e o calendário do Ministério da Saúde.
Nas datas comemorativas são realizadas festas com música, comida e bebida não alcóolica, além de passeios. Na última quinta-feira de todo mês, é realizado um café da manhã coletivo e sorteio de cestas básicas, com recursos próprios, onde cada integrante do grupo traz um lanche e um produto para compor a cesta básica.
Ao final dos anos de 2020 e 2021, foi realizada uma festa de confraternização, em um sítio particular, na cidade de São Sebastião do Passé, distante 65 km de Salvador-Ba, onde os participantes foram com transporte locado, com recursos da poupança realizada ao longo do ano, tendo permanecido no sítio por dois dias (sábado e domingo). Na oportunidade, realizaram atividades de dança, lazer (piscina, passeio de quadriciclo), realização de churrasco, som ao vivo, tendo sido esta intitulada como a melhor atividade de lazer, inclusive para alguns, a única no decurso da pandemia (conforme relato dos participantes do grupo), e com grande importância para o aumento da interação social, prevenção de depressão e socialização.
Resultados A APS, por meio de equipe multiprofissional da Unidade Básica de Saúde Menino Joel, enquanto ordenadora dos cuidados (Portaria GM/MS nº 2.436 de 2017) e enquanto componente da Rede de Atenção Psicossocial (Portaria GM/MS nº 3.088 de 2011), implementou uma ação de âmbito coletivo de promoção e a proteção da saúde, que vem favorecendo a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a redução de danos e a manutenção da saúde mental.
Trata-se de um importante espaço de cuidado coletivo, de acolhimento, identificação de necessidade individuais e coletivas, potencial para identificação precoce de sofrimento psíquico, favorecido pelos relatos dos idosos sobre o processo individual de experienciar a pandemia do COVID 19. Constatamos que foi possível descortinar falas sobre os processos individuais de envelhecimento, os impactos na saúde mental e, principalmente, a percepção da aceleração do declínio funcional no curso da pandemia;
⦁ Compartilhamento de vivências que elucidaram para o grupo a complexidade da autopercepção de condições de risco, de violência e do adoecimento psíquico. Vivências, medos, esperanças, memórias, esquecimentos e lutas individuais e coletivas conjugaram em momentos singulares de testemunhos compartilhados o que configura a implementação da promoção da saúde mental e redução de danos;
A realização de atividades como artesanato, dança, alongamento, relaxamento, musicoterapia e massagens consistem em ações de prevenção e promoção de saúde mental. Podem contribuir na terapêutica dos transtornos mentais leves, bem como redução de danos como a violência psicológica e negligência. Consequentemente são ações que favorecem a desaceleração da perda funcional intensificada pelas restrições impostas pela condição de pandemia;
Constatamos que a aplicação de escalas de rastreio são importante estratégia de estratificação de risco dos participantes e auxiliam no planejamento de ações a serem propostas para o grupo;
⦁ Ademais, a concretização da atividade trouxe efeito terapêutico não programado, uma vez que a realização da prática coletiva remeteu no imaginário coletivo da unidade a sensação de retomada da rotina e melhoramento da situação epidemiológica vigente.