INTRODUÇÃO

Uma das hipóteses que tenta explicar o declínio cognitivo versa sobre a relação entre alterações neurológicas decorrentes do processo de envelhecimento e a cognição. Outras hipóteses referem-se ao estilo de vida do idoso que poderia influenciar a sua cognição. Os idosos que com freqüência têm menor demanda ocupacional e podem ter suas redes sociais diminuídas, poderia gerar um estilo de vida pouco desafiador, especialistas no envelhecimento chamam de idosos “enpijamados”.

No Brasil, as pesquisas sobre a relação entre envelhecimento e tecnologia se referem, principalmente, à interação das pessoas idosas com o computador. Outras áreas, como as tecnologias assistivas ou recursos tecnológicos, como jogos eletrônicos adaptados para idosos, com finalidade de promoção de saúde para garantir uma vida mais confortável, segura e independente na idade avançada, ainda são pouco desenvolvidas.

Adicionalmente destaca-se que em 2017, a Organização Mundial da Saúde-OMS, documentou e divulgou um plano global de ação nas demências construído com base nos pareceres de instituições e associações de todo o mundo e incluiu 7 grandes áreas de atuação para  serem adotadas na gestão de saúde das nações sendo:- a demência como uma prioridade de Saúde Pública; -a consciencialização para a demência e criação de sociedades amigas das pessoas com demência; a redução de risco de demência; -o diagnóstico, tratamento e apoio nas demências; -o apoio aos cuidadores de pessoas com demência; -a disponibilização de informação sobre demências; investigação e - a inovação nas demências. Neste contexto a presente iniciativa visou a premissa da OMS, que fala de ações para a redução de risco de demência, nesta vertente que se objetivou a promoção e longevidade da saúde com melhor qualidade de vida para os idosos, através de intervenções com o treino em jogos eletrônicos.

OBJETIVOS

Uma das hipóteses deste estudo foi encontrar em seus resultados benefícios no desempenho cognitivo, em variáveis de humor, ansiedade e de satisfação geral com a vida dos participantes após o treinamento com o uso de jogos eletrônicos.

Sabe-se hoje que o uso de estratégias que permitam a obtenção de novas habilidades, como o proporcionado pelas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pode resultar em ganhos cognitivos, visto que, quando o idoso faz uso de plataformas digitais ele pode melhorar seu raciocínio e adquirir estratégias de aquisição de memória.

Estudos realizados anteriormente, documentaram que as intervenções com jogos eletrônicos, podem estimular e promover um melhor desempenho cognitivo em adultos e idosos sem demência e sem depressão, promovendo assim a longevidade e uma melhor saúde cognitiva.

Destaca-se que a literatura gerontológica tem ressaltado a importância da preservação cognitiva por promover a manutenção da autonomia, independência e menores riscos de hospitalização e institucionalização em idosos. Acredita-se que a realização deste programa poderá servir de modelo em outros municípios brasileiros, poderá caracterizar uma medida de promoção de saúde e de políticas públicas em Gerontologia. Em consonância com uma das premissas da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2017).

PÚBLICO-ALVO

Adultos de meia idade e idosos saudáveis

DIVULGAÇÃO

Pelo setor de comunicação do município e pelos gestores de cada centro de convivência

ATIVIDADES

Os 124 participantes foram divididos em grupos de 10 participantes, com a presença de monitores que os acompanhavam, monitores estes com formação no Bacharelado em Gerontologia.

Cada participante inscrito neste programa de oficina treinou 15 minutos em cada um dos equipamentos eletrônicos, iniciando-se primeiramente com o treino com a estimulação da atenção e da memória de trabalho (no equipamento Taikô), em seguida realizou um treino de memória episódica com cartas (equipamento de memorização de figuras que iniciava com a apresentação de 12 cartas), consequentemente seguiam para o treino de atenção no equipamento com o uso de um martelo (intitulado mata-mata) e por fim, realizavam um jogo no equipamento de dança, para que pudessem finalizar a participação no programa de modo lúdico e interativo (ver em Apêndices a descrição dos jogos). Todos os jogos tiveram níveis de dificuldades, sendo gradativos, a cada três encontros consecutivos os participantes eram apresentados a um nível de dificuldade diferente, começando do nível iniciante, seguindo para o fácil, posteriormente o moderado e por fim o difícil. Embora os participantes do grupo controle não realizaram a intervenção, eles fizeram parte, de uma lista de espera, realizando posteriormente a intervenção com o mesmo número de sessões, acompanhados por Gerontologos experientes em estimulação cognitiva computadorizadas que os monitorarão em pequenos grupos compostos de no máximo dez participantes.

EQUIPE

A equipe era interdisciplinar e fazia parte de um estudo entre uma pesquisadora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo, a iniciativa foi aplicada no municipio de Caetano do Sul e contou com financiamento da empresa B & P Editorial situada em Barueri na Grande São Paulo/SP. Que custou a compra dos equipamentos e o pagamento dos monitores do estudo, do lanche oferecido aos idosos e dos ônibus que os levavam para o centro da convivência central, onde estavam os equipamentos eletrônicos.

O grupo foi composto por cinco gerontologos que monitoravam os idosos em cada dia de atividades. Profissionais treinados com ensino superior no Bacharelado em Gerontologia. Contou com a assistência técnica de um programador e de um engeneheiro computacional, que adaptaram os equipamentos importados, para uso com adultos maduros e idosos brasileiros.

EQUIPAMENTOS

Informamos que os equipamentos eletrônicos são de origem japonesa, sua compra foi feita pelos patrocinadores deste estudo, que adquiriram os equipamentos apos visitas a centros de lazer para idosos no Japão, aonde estacoes de jogos eletrônicos são comuns para promocão de saude e atividades preventivas de declinio cognitivo na populacao das diferentes faixas etarias.

Todos os equipamentos utilizados passaram por adaptacao, para uso em idosos brasileiros, a saber: design, adaptacão ergonomica, audiovisual e idioma dos softwares, estas mudancas fizeram parte de uma etapa piloto com um grupo de dez idosos que aconteceu um mes antes da realizacão da intervenção do estudo. Contou com o auxilio de profissionais de sistema de informação e engenharia computacional para que as mudancas fossem implantadas. As secoes do treinamento oferecidas aos idosos deste estudo, assim como o manual adaptado para replicação da metodologia empregada e as orientações para a compra dos equipamentos poderão ser solicitadas aos autores pelo e-mail de correspondencia.

RECURSOS FINANCEIROS

O projeto contou com uma parceria público-privada, a prefeitura municipal forneceu o espaço físico, a infraestrutura, e a empresa Benegas e Popovici Editorial Ltda (B & P Editorial) situada em Barueri na Grande São Paulo/SP financiou a equipe envolvida no projeto, deu suporte para o deslocamento, e manutenção do participantes na Estação Ativamente.

RESULTADOS

Observou-se também no presente estudo que o grupo experimental após a participação na Estação Ativamente, apresentou ganhos significativos no desempenho de linguagem, quando comparados ao grupo controle. O que pode sugerir que os mesmos ficaram mais rápidos na busca semântica, apresentando benefícios em habilidades de memória verbal e velocidade de processamento para materiais verbais.

De modo geral, o projeto Estação Ativamente rendeu bons frutos. Proporcionou a convivência entre adultos de meia idade e idosos mais velhos, possibilitou uma rica gama de comunicação através da interatividade digital e tecnológica. O projeto colocou para ambos os grupos etários a possibilidade de descobrir e construir novos significados, principalmente quanto aos possíveis papéis sociais que podem e desejam desempenhar ao longo do seu processo de envelhecimento. O idoso, de quem se espera que só transmita experiências e conhecimentos, colocou-se na condição de pouco ou nada conhecer a respeito de um determinado conteúdo ou universo, permitindo-se o desafio de experimentar o novo, a inexperiência, ao assumir o papel de educando.

O estudo foi publicado recentemente em uma renomada revista brasileira, no campo da neurologia cognitiva e do envelhecimento. Documentando que a participação no programa pode promover a saúde de idosos, e atuar como atividades preventivas de declinio cognitivo e surgimento de demência.