Introdução Num estudo longitudinal, de base populacional, com idosos residentes em uma capital do sul do Brasil (≥ 60 anos), entrevistados em 2009-2010 (baseline) e em 2013-2014 (seguimento), Krug et al (2019) demonstraram que os idosos que não utilizavam a internet na “baseline” mantiveram esse comportamento no “seguimento”, deixando evidente a exclusão digital dessa população.
Tal achado se mostra alarmante, já que os autores constataram “que os idosos que se mantiveram utilizando a internet tiveram maior chance de apresentar ganho cognitivo e menor chance de apresentar declínio cognitivo em comparação àqueles que não faziam uso dessa tecnologia”. (KRUG ET AL, 2019, PG. 10).
O estudo também evidenciou “que a maioria dos idosos pesquisados não obteve ganho nem perda cognitiva clinicamente significativa.” (KRUG ET AL, 2019, PG. 8).
Para Maia et al (2018) a utilização das tecnologias assistivas possibilita resultados positivos ao suporte à pessoa idosa e seus cuidadores na execução das Atividades Básicas de Vida Diária (ABVD) e nas Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD), podendo ser aplicadas para melhoria da qualidade de vida de idosos com demência.
Assim sendo, uma grande preocupação se fez a partir da “pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação no Brasil” do Comitê Gestor da Internet no Brasil, em 2014, citada por Krug et al (2019), a qual mostrou que “81% dos idosos brasileiros não utilizavam a internet”.
Neste sentido, por meio da execução de um projeto de intervenção realizado durante o estágio acadêmico em Serviço Social junto à Secretaria de Desenvolvimento e Inclusão Social de Balneário Camboriú, buscou-se, por meio de Oficinas Pedagógicas de Informática, democratizar o acesso aos saberes em Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), com foco na pessoa idosa, de forma a estreitar seus laços familiares e sociais, especialmente num cenário de pandemia como a COVID-19, promovendo saúde e inclusão social.
Objetivos Buscou-se democratizar o acesso da pessoa idosa às tecnologias da informação e comunicação, de forma a modificar a realidade (de exclusão) dessa população diante as inovações tecnológicas, fazendo com que estes cidadãos e cidadãs se apropriassem do seu protagonismo, fazendo uma transição tranquila do mundo analógico para a era digital, como forma de estreitar laços familiares e sociais, possibilitando que a população atendida conheça, desfrute, respire, habite, explore, socialize de forma plena e segura o território onde sua vida ocorre, especialmente num cenário de pandemia como a COVID-19, promovendo saúde e inclusão social, facilitando o processo de atendimento, via tele atendimento - via telemedicina.
Buscou-se, ainda, demonstrar o quanto é possível exercer a cidadania por meio da internet, por exemplo, acompanhando a posição na fila do SUS, emitindo o passaporte da vacina, enfim, usando a intuitividade para pesquisar e experimentar novos saberes em informática.
As oficinas buscaram mitigar os efeitos negativos da COVID-19 referentes a sensação de isolamento ou abandono, mostrando que com o uso da internet (redes sociais), é possível estar próximo e em contato.
Enfim, por meio da percepção de que a transição do mundo analógico para o digital pode ser suave, sem stress, de forma lúdica, tranquila é que as Oficinas Pedagógicas de Informática foram realizadas.
Ainda como objetivos específicos, também se buscou promover os devidos encaminhamentos às redes de assistência social e saúde, conforme as demandas identificadas na população atendida, porém, não se identificou a necessidade de encaminhamentos.
Público alvo Após captar voluntários para ministrarem as Oficinas, num prazo de 20 dias, promover a formação destes futuros monitores para que atuem/participem do projeto de maneira compatível com os preceitos da Política Nacional do Idoso e do Estatuto do Idoso.
Divulgação Instagram e material impresso (cronograma de oficinas) distribuído na recepção das UBS, CRAS e Casa da Mulher e em mídias
Número de participantes 600
Atividades Foram realizadas Oficinas Pedagógicas de Informática, visando alcançar como público a população idosa. As aulas tinham uma hora de duração, inicialmente uma vez por semana e posteriormente duas vezes por semana. O foco do conhecimento das oficinas estava nos saberes dos alunos idosos e não no da professora/voluntária, possibilitando com isso, a valorização dos saberes da pessoa idosa,
As oficinas tinham a preocupação em apresentar uma percepção de como se busca o conhecimento na era digital e como o saber do idoso é algo de muito valor nos dias atuais, independente de se estar na era digital.
Buscou-se ainda desmistificar a informática e diminuir a sensação de medo enfrentada por muitos idosos diante o computador ou o smartphone.
Para uma melhor compreensão das questões relacionadas às Tecnologias da Informação e Comunicação, uma das estratégias utilizadas era fazer o máximo possível de comparações entre o mundo digital com o mundo “de antigamente”, como por exemplo, estabelecer a relação entre ter que viajar para ver um filho distante e a possibilidade de usar um smartphone para ver e interagir com esse filho sem ter que sair de casa, assiom como acessar o aplicativo ConectSUS, Alô Saúde e telemedicina. Questões referentes a segurança da informação também foram abordadas.
A principal motivação para a realização das oficinas foi promover a inclusão digital e social da pessoa idosa, favorecendo que um mundo de novas descobertas e possibilidades fosse possível para esse público. A motivação também considerou os estudos de Krug et al (2019) conforme apontado:
[...] achados mostram relações já evidenciadas na literatura, porém ressaltam a importância da relação do uso de internet com o melhor desempenho cognitivo de idosos. Nesse sentido, estimular políticas de promoção da inclusão digital de idosos pelo uso da internet pode auxiliar na melhoria ou na preservação da função cognitiva dessa população, com impacto direto na diminuição de doenças relacionadas a problemas cognitivos e, consequentemente, na melhora da saúde e da qualidade de vida. (KRUG ET AL, 2019, PG. 10)
O principal resultado verificado no questionário de avaliação aplicado ao final do projeto foi que 50% dos alunos que responderam o referido questionário “concorda” que “seu conhecimento em informática foi ampliado” e 43,8% “concorda plenamente” com a referida afirmação.
Ainda sobre o questionário de avaliação, 93,8% das respostas indicaram “SIM”, que o uso das redes sociais durante a pandemia de COVID-19 ajudou a evitar a sensação de isolamento social.
Nesse sentido, vemos como positiva a iniciativa que objetivou democratizar o acesso da pessoa idosa aos saberes das tecnologias da informação e comunicação, especialmente no cenário de pandemia da COVI-19, promovendo saúde e inclusão.
Resultados No que diz respeito a atenção à pessoa idosa, observou-se que os alunos passaram a se sentir mais seguros em relação à informática. Ainda havia um certo receio em relação ao computador, porém, com o smartphone era um pouco diferente, os alunos aparentavam menos receio. Os alunos mais assíduos vinham bem motivados para as oficinas, criando um belo vínculo com a voluntária que dava as oficinas.
Sobre a organização dos serviços, observou-se pouca mudança, a não ser pela necessidade de se higienizar as carteiras antes do início das oficinas e manter o uso de máscara.
O planejamento de novas ações precisa rever um espaço mais adequado para as aulas, no sentido de se sair de um modelo de sala de aula (laboratório de informática) para um espaço que promova a convivência/vivências em informática. Onde o grupo possa se reunir e chamar o Ifood para fazer um lanche, ou marcar um podcast ou live para trocar experiências, enfim, busca-se ir além da sala/laboratório, busca-se um espaço onde se viva e experimente a informática como parte do dia-a-dia.