O aumento das doenças crônicas degenerativas associadas ao envelhecimento populacional e redução da disponibilidade de cuidado familiar, tem resultado no aumento das hospitalizações de idosos e, na mesma proporção, em maior propensão a vulnerabilidade física, emocional e espiritual destes sujeitos, demandando a necessidade de uma rede de cuidados que abarque a integralidade deste ser humano.
A condição mais frágil e de maior dependência do idoso em situação de institucionalização com aumento do estresse e da necessidade de atenção contínua alinhada a existência das doenças crônicas degenerativas, como o câncer, tem suscitado a necessidade complementar de práticas que apoiem o ser humano neste processo de saúde e doença.
Com relação ao câncer, sabemos que seus efeitos são devastadores, com impactos robustos sobre a dinâmica de vida do idoso e de seus familiares, onde, apesar dos avanços terapêuticos e dos recursos tecnológicos envolvidos, o diagnóstico, ainda exerce um papel de sentença de morte.
Nas doenças, em especial no câncer, o cuidado deve contemplar aspectos que envolvem a prevenção, recuperação, promoção e proteção à saúde, considerando as multidimensões físicas, emocionais, psicológicos e sociais do Ser Humano principalmente do idoso. Reafirmando esta posição, Fornazari e Ferreira (2010) demonstram que o paciente idoso oncológico deve ser compreendido em sua totalidade, e que seus aspectos espirituais devem ser considerados, para que ele seja respeitado em sua singularidade bem como em suas crenças e valores. Cabe destacar que o cuidado espiritual pode apresentar-se como elemento que contribui na adesão ao tratamento, no enfrentamento da problemática, na redução do estresse e ansiedade, e na busca de significado para sua atual situação.
Ao respeitar a espiritualidade do idoso os profissionais de saúde melhoram sua relação com o paciente e sua família, uma vez que este elemento pode ser compreendido como a essência que dá sentido à vida e que estabelece uma conexão entre os seres humanos com algo maior, para além daquilo que podemos ver ou palpar (ZENEVICZ, 2009).
Além do paciente idoso oncológico, o familiar também sofre com o adoecimento e possibilidade de morte de seu ente querido, requerendo cuidado da equipe de saúde, tanto quanto o próprio paciente a fim de manter-se firme para acompanhar todo o processo de doença e tratamento ao qual seu familiar será submetido. Assim, os profissionais de saúde são desafiados a enfrentar esta diversidade de crises físicas, emocionais, sociais, culturais e espirituais, bem como conhecer a vivência e os sentimentos desta complexa unidade paciente-familiar, visando à elaboração de ações de apoio no adoecimento e em medidas de prevenção ao estresse, ansiedade e depressão.
Assim, a utilização da espiritualidade como ferramenta de cuidado auxilia os envolvidos a transcenderem para o que há de mais profundo no ser, possibilitando-lhes ouvir o coração e neste caminho compreender melhor o que passa na alma de cada um, fortalecendo a dimensão espiritual para o entendimento da situação de saúde vivenciada e de suas alternativas. O cuidar apoiado pela espiritualidade fomenta neste processo o fortalecimento de valores vinculados à solidariedade, compaixão e do cuidado com amor, indispensável ao desenvolvimento de uma assistência pautada em princípios de responsabilidade e compromisso com o outro.
No entanto, frente a esta dinâmica de cuidado ao idoso hospitalizado ou em tratamento quimioterápico e radioterápico e seus familiares há os profissionais de saúde, que emersos no mundo dos fazeres cotidianos, envolvida com a técnica, com a pressão psicológica do trabalho, com os sentimentos de medo, apreensão, desejo de recuperação do ser cuidado, luto, se vê consumida física e emocionalmente pelas suas dores e pelas do outro, necessitando igualmente de cuidado e atenção(AYALA et al, 2017).
A saúde, considerada como um bem maior de cada indivíduo, e salvaguardada pela Constituição Federal de 1988, “como um dever da família, da comunidade e do Estado, devendo estar sobre sólidas políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” a sociedade brasileira. Olhando neste prisma, verificamos que a transição demográfica implica numa dupla carga de doenças e a necessidade de manejos de cuidados contínuos aos portadores de doenças crônicas e degenerativos. Porém, também evidenciamos que país esta em franco processo de envelhecimento. Sabemos que os idosos de maneira geral travam um longo caminho de lutas, de avanços e retrocessos e que necessitam dos cuidados de saúde mais do que nunca. As Politicas concebidas pelo SUS constituiu um lastro na reafirmação do acesso universal e equânime a serviços e ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, garantindo a integralidade da atenção. Fortalecendo esta diretriz, a implantação do Estatuto do Idoso foi um marco determinante para que os idosos tivessem garantia sobre os seus direitos. Em 2006, foi lançado pelo Ministério da Saúde em 2006 a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI) tem como meta a atenção à saúde adequada e digna para os idosos brasileiros, principalmente os considerados frágeis ou vulneráveis, buscando alcançar à independência e autonomia da atenção a saúde da pessoa idosa. Buscando aperfeiçoar os mecanismos surge a Portaria de Consolidação nº 3, de 28 de Setembro de 2017, que consolida as normas sobre as redes do Sistema Único de Saúde e seu anexo I, que trata das Diretrizes para Organização da Rede de Atenção à Saúde do SUS. As redes de atenção são consideradas processos organizativos e operacionais com diferentes tecnologias que buscam juntas garantir a integralidade do cuidado. Neste projeto as redes são visualizadas pela rede hospitalar, pela Secretaria Municipal de Saúde, pelas instituições de ensino, pela sociedade em geral, que participam e apoiam este projeto.
Cônscios, desta necessidade foi proposto este projeto com um olhar holístico, que abrange o cuidado do idoso, do familiar e dos profissionais de saúde, por meio do desenvolvimento de uma atenção a saúde não linear, que ultrapasse os limites da técnica, contemplando um cuidado plural que melhore a qualidade de vida dos envolvidos e dê mais leveza às intempéries da vida e da morte.
O projeto desenvolve atividades terapêuticas significativas de modo a auxiliar todos os envolvidos a enfrentar com mais facilidade esta fase da vida. Segundo Elmescany e Barros (2015) as atividades realizadas individualmente ou em grupo facilitam aos pacientes oncológicos e familiares a elaborarem e expressarem as questões que os afligem, seja nas questões de cunho existencial, espiritual e significado da vida até o enfrentamento das adversidades impostas pela doença e seu tratamento. As atividades do projeto estão baseadas de espiritualidade abrindo caminho para a reflexão, trazendo respostas às questões da vida, do seu significado e das relações com o transcendente.
Além do próprio projeto, há também os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Graduação em Enfermagem e Medicina existentes na Universidade, que, em sintonia com os preceitos da Constituição Federal Brasileira de 1988 e das Diretrizes Nacionais (DCN) prevê a necessidade dos estudantes, durante sua formação profissional, vivenciarem a articulação entre ensino, pesquisa e extensão no sentido de reunir elementos que promovam o desenvolvimento de competências e habilidades necessárias à construção de um perfil de profissionais para a área da saúde, que seja generalista, crítico e reflexivo, com competência para atuar em problemas/situações de saúde\doenças mais prevalentes no perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua região de atuação, identificando as dimensões biopsicossociais e seus determinantes.
Assim sendo, este macroprojeto está estruturado a partir do tripé ensino, pesquisa e extensão buscando fortalecer a relação da comunidade com a academia e com o serviço de saúde, no intuito de aprimorar a assistência à saúde da pessoa idosa, com ênfase no cuidado a espiritualidade humana. Desta forma, neste recorte serão apresentadas as atividades relacionadas ao eixo da extensão, que tem a pretensão de viabilizar junto aos pacientes, familiares e profissionais de saúde presentes na trajetória da doença oncológica um enfoque humanitário e espiritual que se sobreponha as angústias do corpo e da alma oferecendo experiências que como as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PIC’S) possuam uma linguagem singular, própria, que busca prestar uma assistência, em que o saber fazer mantenha um diálogo com os tratamentos convencionais e a visão tecnológica, ampliando o cuidado a totalidade do ser humano e melhorando a sua qualidade de vida.