Ano: 
2019
Categoria: 
Atenção à saúde da pessoa idosa no ambiente domiciliar
Região da Prática: 
Nordeste
Município: 
Aracaju
Instituição Responsável: 
Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju
Coordenação da experiência: 
Rosely Anacleto de Jesus Morais de Almeida
Telefone institucional: 
(79) 3711-5000
Email da coordenação: 
ranacleto.1@hotmail.com
Qual a esfera da experiência?: 
Grupo B - Municípios
O que motivou a realização dessa experiência?: 
Um senso de impotência ou no limite, uma angústia severa diante de uma intervenção focalista e diminuta que carecia ser revista, diante da procura cada vez mais intensa de familiares e cuidadores, em processo agudo de sofrimento, que recorriam ao Serviço Social da USF D. Sinhazinha, ávidos pela dispensação de fraldas geriátricas, torpedos de oxigênio e insumos médicos-cirúrgicos, destinados a pessoas acamadas no âmbito domiciliar, diagnosticadas com doenças crônico-degenerativas e simultaneamente com incontinência urinária e/ ou fecal. Deste público, cerca de 98% correspondem a pessoas maiores de 60 anos, mas em alguns casos (muito poucos), os idosos estavam desempenhando a função de cuidadores de seus respectivos filhos, diagnosticados por doenças progressivas e incuráveis . De acordo com a Nota Técnica Municipal que disciplina o acesso a estes insumos, além do diagnóstico do médico da USF contendo os requisitos acima, se faz necessário a realização de visita domiciliar a cada quadrimestre, realizada por algum membro da equipe, e a elaboração de um laudo social que avalie a vulnerabilidade do usuário e de seu respectivo grupo familiar e identifique sua possível elegibilidade para o Programa. Convém destacar que nesta USF, cerca de 85% do território estão sem cobertura da Estratégia Saúde da Família e sem NASF, sendo a assistente social, uma enfermeira e uma odontóloga, as únicas profissionais com vínculos ativos e permanentes com este público, que se configura nos maiores demandantes dos diversos serviços da Unidade de Saúde. Esta situação, fragiliza a definição operacional da Atenção Primária à Saúde (APS), sobretudo nos seus principais atributos: a longitudinalidade e a coordenação da integralidade do cuidado.
O que se esperava modificar ou realizar através da iniciativa?: 
1) Reduzir a debilidade do vínculo e a impessoalidade da assistência ofertada pela "mini-equipe" aos idosos com doenças incuráveis, progressivas e ameaçadoras de continuidade da vida e de seus respectivos familiares/ cuidadores (em muitos casos também já idosos), cujos atendimentos até então, se restringiam às dependências da USF; 2) Incorporar o atendimento domiciliar (AD) de forma sistemática, ativando especialmente mecanismos não farmacológicos do campo multidisciplinar e respaldados pelas competências éticas, técnicas e legais das profissionais envolvidas; 3) Incluir os princípios dos Cuidados Paliativos em conformidade com o Art. 2 da PNAB/2017, aliviando os sintomas, o sofrimento e a dor dos idosos gravemente enfermos e das famílias, com ênfase nas dimensões psicossociais e espirituais, conforme preconizado no conceito da referida modalidade de cuidado atualizado pela OMS em 2002. 4) Minorar as chances de indeferimentos dos insumos pleiteados pela ausência de assistência domiciliar aos idosos gravemente enfermos; 5) Ativar a vida e a autonomia dos idosos paliados, preparando-os em conjunto com suas famílias para a "morte e o morrer", evitando assim abandonos terapêutico diante da proximidade da finitude humana.
Descreva as metas para o desenvolvimento da experiência (de 1 a 4, no maximo): 
Reallizar visitas domiciliares periódicas a 100% dos idosos já contemplados com os insumos acima.
Visitar 30% dos idosos com o pleito indeferido ou protelado pela SMS/
Orientar 100% dos cuidadores e familiares que recorrem ao Serviço Social para a primeira consulta na USF, independente de inserção no Programa.
Prestar assistência pós-ótito a 70% dos familiares elegíveis.
Qual o perfil dos idosos envolvidos nessa experiência?: 
idosos e idosas, diagnosticados com doenças crônicos-degenerativas e elegíveis para cuidados paliativos em âmbito domiciliar
De que forma a experiência foi divulgada ao público?: 
Inicialmente nas consultas sociais realizadas pela assistente social. Depois foram elaborados e dispostos folders em seis pontos/ consultórios de maiores circulação de idosos.
Onde foi desenvolvida?: 
A experiência refere-se apenas à área de abrangência USF D. Sinhazinha que contempla os seguintes bairros: Salgado Filho, Grageru, Leite Neto, Jardins, Treze de Julho e parcialmente os bairros Luzia, Ponto Novo, Conjunto dos Motoristas, Suíssa e Inácio Barbosa.
Como os idosos foram selecionados para participar?: 
Sempre que se constatava compatibilidade na procura pelos insumos acima descritos e a elegibilidade para ações paliativas previstas pela Associação Nacional de Cuidados Paliativos.
Quantos idosos pretendiam alcançar com essa experiência?: 
200
Quantos idosos participaram da experiência, por ano de atividade?: 
A experiência ainda está no seu primeiro ano de existência, tendo alcançado nestre primeiro momento cerca de 80 idosos, havendo uma média de três assistências paliativas no domicílio por semana. Todavia, a adoção dessa abordagem coincidiu com a implantação do Prontuário Eletrônico, que demandou a reconfiguração do processo de trabalho. Recentemente, alguns ajustes foram discutidos pelas autoras, onde calculou-se que a otimização dos resultados pode ser obtido agora que a nova ferramenta já está sendo utilizada de forma pelna, mais segura e eficaz pelos profissionais.
Ao final, ou até o momento, quantos idosos participaram da experiência?: 
71
Qual o principal motivo da saída dos idosos nas atividades da experência? Porque deixaram de participar?: 
A morte, preferencialmente a morte digna e idealmente a morte bela (kalotanásia). A morte, sob a ótica paliativista, não é um evento encarado como uma fatalidade, mas como uma das etapas naturais do ciclo vital, para a qual é impossível negociação, não se incentivando o prolongamento artificial da vida (distanásia) e nem se recomendando abreviá-la (eutanásia), mas tentando acrescentar vida aos dias sem a desesperada preocupação de acrescentar dias à vida.
Descreva detalhadamente como eram as atividades realizadas: 
A área de abrangência desta USF fica localizada na região geográfica e socioeconômica mais privilegiada de Aracaju, sendo uma das possíveis razões pelas quais a cobertura da ESF é baixa e possivelmente um dos indicadores de maior longevidade populacional. No entanto, apesar destes idosos (alguns até centenários) não serem na sua totalidade SUS dependentes, cada vez mais recorrem ao SUS, seja porque os insumos que necessitam não são ofertados pela Saúde Suplementar, seja porque os valores cobrados pelos planos privados tornaram-se impagáveis para algumas famílias, seja porque a depender do grau de dependência deste idoso são conjugadas várias outras despesas que oneram o grupo familiar e/ou ainda pela oferta insuficiente, do ponto de vista financeiro, de Serviços de Atenção Domiciliar na rede privada, viável ao orçamento das famílias. Esta realidade tem provocado um efeito migratório e intenso para assistência a pessoas idosas que até então não se percebiam como usuárias do Sistema Único de Saúde. A maior demanda deste grupo etário, indubitavelmente são a imunização, que dispensa a vinculação territorial, a assistência farmacêutica e os insumos médicos-cirúrgicos, fraldas geriátricas e torpedos de Oxigênio. Para qualquer uma dessas demandas, as famílias dirigem-se à recepção onde são gerados os números dos Prontuários Eletrônicos. Aguardam sentados próximos à recepção e um painel digital vai anunciando-os e dirigindo-os para a sala adequada. No caso do Serviço Social, convém destacar que desde 1996 que este profissional integra a APS em Aracaju e lida com a diversidade de demandas vinculadas ao seu núcleo profissional e ao perfil da população adscrita. Na USF D. Sinhazinha, tem sido comum familiares e cuidadores chegarem com prescrição de médicos da Saúde Suplementar, dada a inexistência deste profissional para a extra-área, solicitando os insumos acima. Diferentemente das outras USF de Aracaju, a primeira consulta não é com o médico para visitar o usuário no domicílio, diagnosticar e tratar a doença, mas com a assistente social que após anamnese e lançamento das informações no PE, elabora um laudo socieconômico, anexa a documentação solicitada pela SMS (cópias de comprovante de residência, relatório e receituário médico recente, com CID compatível com as doenças crônicos-degenerativas previamente listadas pela Secretaria de Saúde, informando obrigatoriamente que se trata de pessoa acamada e com incontinência urinária e fecal, RG e CPF do usuário e de seu responsável). Depois desse primeiro contato (onde já é perceptível o sofrimento dos familiares que conjugam a proximidade do luto com dificuldades financeiras e operacionais na USF) já se adotam orientações paliativas dirigidas aos cuidadores ( no decorrer da consulta sempre que possível, tem-se optado pela remoção de birôs para evitar barreiras físicas e gerar uma proximidade e humanização na consulta, o exercício da escuta qualificada, seguido de silêncios, pausas prolongadas, choros, desabafos, estreitamento de laços, e elaboração de um plano de cuidados contido no PE centrado na pessoa e não na doença (ex. Quando se trata de familiares de pessoas idosas com Alzheimer, estamos orientando que assistam o filme disponível em streaming e no Youtube "Para Sempre Alice", para pessoas com dificuldade de aceitação da morte anunciada recomenda-se assistir um dos filmes "balada para Narayama" ou "Whit uma lição de vida", conforme o caso. Há também a sugestão de leitura de alguns livros, como "uma Furtiva lágrima" de Nélida Piñon, "Bagagem" de Adélia Prado, "Uma morte muito suave" de Simone de Beauvoir, poesias de Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cassimiro de Abreu ou Cora Coralina e músicas de cantores que transformaram em melodia a brevidade do tempo, a exemplo de Gilberto Gil que afirma que "morrer deve ser tão frio quanto na hora do parto" e também de Lenine que indaga que "será que é tempo que lhe falta para perceber?". Não raro, o fim das consultas terminam com um abraço afetuoso e com um retorno programado, agendado no prontuário eletrônico, onde dá-se sequência aos cuidados tanto do usuário quanto de seu cuidador. Depois desse contato fundamental para a elaboração do Projeto Terapêutico Singular, algumas informação são planilhadas e seguem para a gerente, junto com mais dois formulários específicos, também preenchidos pela assistente social, exigidos pela Secretaria. Na sequência, uma das médicas da USF transcreve as solicitações dos profissionais da rede privada para um receituário do SUS. Reunido este verdadeiro dossiê, a gerente escaneia e encaminha ao núcleo responsável na Sercretaria Municipal de Saúde. Pela Nota Técnica, o processo levaria até dois meses para ser analisado, mas a demanda crescente, tem feito com que estas situações se arrastem até um semestre, acontecendo inclusive casos de óbitos antes mesmo da concessão de algum dos insumos. Neste intervalo de tempo, a assistente social e a odontóloga, avaliam conjuntamente os casos elegíveis para cuidados paliativos, que são praticamente todos, e elaboram o planejamento das visitas, informando a gerente a necessidade de transporte. A existência da anamnese social e o receituário médico com o CID não substituem a participação de uma ESF diretamente vinculada a estas pessoas, sobretudo o agente comunitário de saúde, mas evitam que as profissionais cheguem nos domicílios completamente "cruas" como se fôssem realizar uma visita social e não uma intervenção técnica fundamentada em evidências científicas. As visitas, são uma extensão, porém com maior profundidade do que aconteceu na consulta social, pois acontece no espaço arquitetônico prenhe da história da pessoa que enfrenta a terminalidade. É neste momento que a odontóloga se soma, avaliando as condições de saúde bucal e colaborando nas ações paliativas. A depender das relações pregressas construídas entre a pessoas acamada e a família, a morte pode ter significados diferentes: pesar, vingança, libertação, alívio, perda, revolta, abandono. Quando o caso permite, considerando que as famílias não são uniformes, abordamos o papel social que a pessoa ocupa, quais serão as novas fontes de sobrevivência, quais medidas práticas devem ser adotadas em caso de morte no domicílio, desmistificamos o protagonismo que os domicílios vêm desempenhando ultimamente: fornecimento de alimentos deliverys, igrejas em células/ nos domicílio, partos domiciliares, tendência (discutível, mas existente) de home school, realização de inúmeros serviços de beleza, de saúde, por aplicativos nos domicílios e por que não, mortes nestes ambientes, como era no passado? Tentamos levantar os desejos ocultos quando os usuários ainda estão responsivos, lúcidos e demonstram interesse na abordagem, mas evitamos fatiga-los com excesso de perguntas. Observamos se existem lacunas psicossociais possíveis de serem preenchidas para reduzir o desconforto psicossocial e espiritual: exercício do perdão, revelação de segredos, consumos de comidas com "afetos" se não houver contraindicação nutricional ou médica, rever pessoas queridas que estão distantes, vontade de circular em lugares que os conecta com a espiritualidade (jardins, contemplar o mar, ver o pôr do sol, tocar em animais de estimação, ouvir o canto de pássaros, escutar músicas que fizeram parte de sua história ), entre outros. Quando se trata de pessoa sem prejuízo cognitivo, esclarecemos também o que é testamento vital e reafirmamos o direito da pessoa de exercer sua autonomia sobre procedimentos invasivos e técnicas de reanimação que deseje ou não que lhe seja imputados. A família também é sensibilizada para respeitar a opção religiosa da pessoa que está sob cuidados paliativos, independente da diversidade de credos religiosos e até da inexistência desses por outros familiares. São também orientados a, na medida do possível, solicitar visita de lideranças religiosas em conformidade com a opção da pessoa idoso, evitando violação e intolerância religiosas, diante da vulnerabilidade física da mesma. Nos casos em que o óbito antecede nossa visita (tendo nós conhecimento ou não do mesmo), verificamos se há necessidade de encaminhamento do familiar para algum serviço de Saúde Mental disponível na rede assistencial do município, fornecemos orientações cartorárias e previdenciárias e fortalecemos o vínculo com a família que como dito no início, praticamente inexistia.
Descreva quais as dificuldades encontradas para realização das atividades.: 
O principal é o desfalque da equipe que está desprovida de agente comunitário de saúde, médico, enfermeiro (participando desta linha de cuidado), auxiliar de enfermagem e profissionais vinculados ao NASF (nutricionista, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo) e o despreparo técnico/ desinteresse dos que restam, cuja formação está centrada em procedimentos curativos quando esta demanda impõe o olhar sobre o cuidado. Existe também falha na comunicação dos profissionais, o que impede, por exemplo, que assistência pós óbito seja garantida a todo familiar em tempo desejável. Por fim, convém registrar que a complexidade do tema e a privacidade do espaço domiciliar nem sempre são propícios a registros visuais como fotos, vídeos, gravações e publicações em rede social que ajudem a documentar a experiência, pois nem sempre as famílias se encontram resilientes para autorizar este tipo de material. o segundo tem sido a morosidade na análise e dispensação dos insumos, mas raríssimos são os casos de descontinuidade dos mesmos se as condições que lhes deram origem não forem modificadas.
Quais foram os resultados observados depois da implementação?: 
Melhor vinculação da população descoberta da ESF com a "miniequipe", reforçando o compromisso de um serviço público, gratuito e humanizado. Garantia, em muitos casos de conforto espiritual, mediante sensibilização da família da importância desta dimensão, especialmente durante a fase de terminalidade humana; Redução (não mensurada, mas verbalmente expressa) do esgotamento mental do cuidador; Alívio do sofrimento, inclusive com relatos de controle de ansiolíticos, depois que medida paliativas como as exemplificadas na fase de implantação foram introduzidas; Intensificação do autocuidado das duas profissionais que solidariamente incorporaram esta modalidade e passaram a repensar o limiar vida/morte sob outra perspectiva.
Descreva os resultados observados de acordo com as metas previstas: 
70% dos idosos que já recebem os insumos estão sob cuidados paliativos da miniequipe
Ainda não houve pleito indeferido, mas a morosidade tem crescido.
Cobertura de 100% da população com ações paliativa que procuram o Seviço Social para acesso aos insumos médicos-cirúrgicos
A assistência pós-óbito nem sempre é relalizada porque o desligamento do programa é feito pela gerente. Dessa forma, por falha na comunicação, nem sempre a miniequipe fica sabendo dos óbitos.
Descreva em forma de indicadores quantitativos (números, proporções, taxas) os resultados alcançados pela experiência.: 
Os números são imprecisos, por várias razões: não há estimativa da quantidade de pessoas idosas, pois a área não é mapeada. Houve durante a execução do progrma mudança dos prontuários físicos para os eletrônicos, dificultando a preservação de informações. Não há agente de saúde para realizar o trabalho de vigilância em saúde no território e efetivamente identificar quem são as pessoas restrita ao leito e ao domicílio. Diante disso, só é possível afirmar, que cerca de 80 pessoas idosas foram alcançadas com esta mdodalidade de assistência, na área de abrangência da UBS D. Sinhazinha.
Existe equipe responsável pelo monitoramento/avaliação da experiência?: 
Sim
Com que frequência se reúne?: 
Mensalmente
Quais os pontos positivos da experiência?: 
Redução da dor, dos sintomas e do sofrimento de pessoas gravemente enfermas que estão enfrentando o processo de terminalidade humana; Melhoria nas relações familiaares entre cuidadores e dependentes de cuidados em situação de vulnerabilidade multidimensional; Baixo custo e de fácil implementação, sobretudo nas USF onde as equipes estejam plenamente organizadas; Possibilidade de reprodução em larga escala.
Quais as limitações da experiência?: 
O preconceito, a indiferença e a desinformação de alguns profissionais que insistem em confundir cuidados paliativos com eutanásia.
2019
-
Nordeste
Cuidados Domiciliares em Idosos: Recortes Paliativos na APS
Introdução
Um senso de impotência ou no limite, uma angústia severa diante de uma intervenção focalista e diminuta que carecia ser revista, diante da procura cada vez mais intensa de familiares e cuidadores, em processo agudo de sofrimento, que recorriam ao Serviço Social da USF D. Sinhazinha, ávidos pela dispensação de fraldas geriátricas, torpedos de oxigênio e insumos médicos-cirúrgicos, destinados a pessoas acamadas no âmbito domiciliar, diagnosticadas com doenças crônico-degenerativas e simultaneamente com incontinência urinária e/ ou fecal. Deste público, cerca de 98% correspondem a pessoas maiores de 60 anos, mas em alguns casos (muito poucos), os idosos estavam desempenhando a função de cuidadores de seus respectivos filhos, diagnosticados por doenças progressivas e incuráveis . De acordo com a Nota Técnica Municipal que disciplina o acesso a estes insumos, além do diagnóstico do médico da USF contendo os requisitos acima, se faz necessário a realização de visita domiciliar a cada quadrimestre, realizada por algum membro da equipe, e a elaboração de um laudo social que avalie a vulnerabilidade do usuário e de seu respectivo grupo familiar e identifique sua possível elegibilidade para o Programa. Convém destacar que nesta USF, cerca de 85% do território estão sem cobertura da Estratégia Saúde da Família e sem NASF, sendo a assistente social, uma enfermeira e uma odontóloga, as únicas profissionais com vínculos ativos e permanentes com este público, que se configura nos maiores demandantes dos diversos serviços da Unidade de Saúde. Esta situação, fragiliza a definição operacional da Atenção Primária à Saúde (APS), sobretudo nos seus principais atributos: a longitudinalidade e a coordenação da integralidade do cuidado.
Objetivos
1) Reduzir a debilidade do vínculo e a impessoalidade da assistência ofertada pela "mini-equipe" aos idosos com doenças incuráveis, progressivas e ameaçadoras de continuidade da vida e de seus respectivos familiares/ cuidadores (em muitos casos também já idosos), cujos atendimentos até então, se restringiam às dependências da USF; 2) Incorporar o atendimento domiciliar (AD) de forma sistemática, ativando especialmente mecanismos não farmacológicos do campo multidisciplinar e respaldados pelas competências éticas, técnicas e legais das profissionais envolvidas; 3) Incluir os princípios dos Cuidados Paliativos em conformidade com o Art. 2 da PNAB/2017, aliviando os sintomas, o sofrimento e a dor dos idosos gravemente enfermos e das famílias, com ênfase nas dimensões psicossociais e espirituais, conforme preconizado no conceito da referida modalidade de cuidado atualizado pela OMS em 2002. 4) Minorar as chances de indeferimentos dos insumos pleiteados pela ausência de assistência domiciliar aos idosos gravemente enfermos; 5) Ativar a vida e a autonomia dos idosos paliados, preparando-os em conjunto com suas famílias para a "morte e o morrer", evitando assim abandonos terapêutico diante da proximidade da finitude humana.
Metas
  1. Reallizar visitas domiciliares periódicas a 100% dos idosos já contemplados com os insumos acima.
  2. Visitar 30% dos idosos com o pleito indeferido ou protelado pela SMS/
  3. Orientar 100% dos cuidadores e familiares que recorrem ao Serviço Social para a primeira consulta na USF, independente de inserção no Programa.
  4. Prestar assistência pós-ótito a 70% dos familiares elegíveis.
Público alvo
idosos e idosas, diagnosticados com doenças crônicos-degenerativas e elegíveis para cuidados paliativos em âmbito domiciliar
Divulgação
Inicialmente nas consultas sociais realizadas pela assistente social. Depois foram elaborados e dispostos folders em seis pontos/ consultórios de maiores circulação de idosos.
Número de participantes
71
Atividades
A área de abrangência desta USF fica localizada na região geográfica e socioeconômica mais privilegiada de Aracaju, sendo uma das possíveis razões pelas quais a cobertura da ESF é baixa e possivelmente um dos indicadores de maior longevidade populacional. No entanto, apesar destes idosos (alguns até centenários) não serem na sua totalidade SUS dependentes, cada vez mais recorrem ao SUS, seja porque os insumos que necessitam não são ofertados pela Saúde Suplementar, seja porque os valores cobrados pelos planos privados tornaram-se impagáveis para algumas famílias, seja porque a depender do grau de dependência deste idoso são conjugadas várias outras despesas que oneram o grupo familiar e/ou ainda pela oferta insuficiente, do ponto de vista financeiro, de Serviços de Atenção Domiciliar na rede privada, viável ao orçamento das famílias. Esta realidade tem provocado um efeito migratório e intenso para assistência a pessoas idosas que até então não se percebiam como usuárias do Sistema Único de Saúde. A maior demanda deste grupo etário, indubitavelmente são a imunização, que dispensa a vinculação territorial, a assistência farmacêutica e os insumos médicos-cirúrgicos, fraldas geriátricas e torpedos de Oxigênio. Para qualquer uma dessas demandas, as famílias dirigem-se à recepção onde são gerados os números dos Prontuários Eletrônicos. Aguardam sentados próximos à recepção e um painel digital vai anunciando-os e dirigindo-os para a sala adequada. No caso do Serviço Social, convém destacar que desde 1996 que este profissional integra a APS em Aracaju e lida com a diversidade de demandas vinculadas ao seu núcleo profissional e ao perfil da população adscrita. Na USF D. Sinhazinha, tem sido comum familiares e cuidadores chegarem com prescrição de médicos da Saúde Suplementar, dada a inexistência deste profissional para a extra-área, solicitando os insumos acima. Diferentemente das outras USF de Aracaju, a primeira consulta não é com o médico para visitar o usuário no domicílio, diagnosticar e tratar a doença, mas com a assistente social que após anamnese e lançamento das informações no PE, elabora um laudo socieconômico, anexa a documentação solicitada pela SMS (cópias de comprovante de residência, relatório e receituário médico recente, com CID compatível com as doenças crônicos-degenerativas previamente listadas pela Secretaria de Saúde, informando obrigatoriamente que se trata de pessoa acamada e com incontinência urinária e fecal, RG e CPF do usuário e de seu responsável). Depois desse primeiro contato (onde já é perceptível o sofrimento dos familiares que conjugam a proximidade do luto com dificuldades financeiras e operacionais na USF) já se adotam orientações paliativas dirigidas aos cuidadores ( no decorrer da consulta sempre que possível, tem-se optado pela remoção de birôs para evitar barreiras físicas e gerar uma proximidade e humanização na consulta, o exercício da escuta qualificada, seguido de silêncios, pausas prolongadas, choros, desabafos, estreitamento de laços, e elaboração de um plano de cuidados contido no PE centrado na pessoa e não na doença (ex. Quando se trata de familiares de pessoas idosas com Alzheimer, estamos orientando que assistam o filme disponível em streaming e no Youtube "Para Sempre Alice", para pessoas com dificuldade de aceitação da morte anunciada recomenda-se assistir um dos filmes "balada para Narayama" ou "Whit uma lição de vida", conforme o caso. Há também a sugestão de leitura de alguns livros, como "uma Furtiva lágrima" de Nélida Piñon, "Bagagem" de Adélia Prado, "Uma morte muito suave" de Simone de Beauvoir, poesias de Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cassimiro de Abreu ou Cora Coralina e músicas de cantores que transformaram em melodia a brevidade do tempo, a exemplo de Gilberto Gil que afirma que "morrer deve ser tão frio quanto na hora do parto" e também de Lenine que indaga que "será que é tempo que lhe falta para perceber?". Não raro, o fim das consultas terminam com um abraço afetuoso e com um retorno programado, agendado no prontuário eletrônico, onde dá-se sequência aos cuidados tanto do usuário quanto de seu cuidador. Depois desse contato fundamental para a elaboração do Projeto Terapêutico Singular, algumas informação são planilhadas e seguem para a gerente, junto com mais dois formulários específicos, também preenchidos pela assistente social, exigidos pela Secretaria. Na sequência, uma das médicas da USF transcreve as solicitações dos profissionais da rede privada para um receituário do SUS. Reunido este verdadeiro dossiê, a gerente escaneia e encaminha ao núcleo responsável na Sercretaria Municipal de Saúde. Pela Nota Técnica, o processo levaria até dois meses para ser analisado, mas a demanda crescente, tem feito com que estas situações se arrastem até um semestre, acontecendo inclusive casos de óbitos antes mesmo da concessão de algum dos insumos. Neste intervalo de tempo, a assistente social e a odontóloga, avaliam conjuntamente os casos elegíveis para cuidados paliativos, que são praticamente todos, e elaboram o planejamento das visitas, informando a gerente a necessidade de transporte. A existência da anamnese social e o receituário médico com o CID não substituem a participação de uma ESF diretamente vinculada a estas pessoas, sobretudo o agente comunitário de saúde, mas evitam que as profissionais cheguem nos domicílios completamente "cruas" como se fôssem realizar uma visita social e não uma intervenção técnica fundamentada em evidências científicas. As visitas, são uma extensão, porém com maior profundidade do que aconteceu na consulta social, pois acontece no espaço arquitetônico prenhe da história da pessoa que enfrenta a terminalidade. É neste momento que a odontóloga se soma, avaliando as condições de saúde bucal e colaborando nas ações paliativas. A depender das relações pregressas construídas entre a pessoas acamada e a família, a morte pode ter significados diferentes: pesar, vingança, libertação, alívio, perda, revolta, abandono. Quando o caso permite, considerando que as famílias não são uniformes, abordamos o papel social que a pessoa ocupa, quais serão as novas fontes de sobrevivência, quais medidas práticas devem ser adotadas em caso de morte no domicílio, desmistificamos o protagonismo que os domicílios vêm desempenhando ultimamente: fornecimento de alimentos deliverys, igrejas em células/ nos domicílio, partos domiciliares, tendência (discutível, mas existente) de home school, realização de inúmeros serviços de beleza, de saúde, por aplicativos nos domicílios e por que não, mortes nestes ambientes, como era no passado? Tentamos levantar os desejos ocultos quando os usuários ainda estão responsivos, lúcidos e demonstram interesse na abordagem, mas evitamos fatiga-los com excesso de perguntas. Observamos se existem lacunas psicossociais possíveis de serem preenchidas para reduzir o desconforto psicossocial e espiritual: exercício do perdão, revelação de segredos, consumos de comidas com "afetos" se não houver contraindicação nutricional ou médica, rever pessoas queridas que estão distantes, vontade de circular em lugares que os conecta com a espiritualidade (jardins, contemplar o mar, ver o pôr do sol, tocar em animais de estimação, ouvir o canto de pássaros, escutar músicas que fizeram parte de sua história ), entre outros. Quando se trata de pessoa sem prejuízo cognitivo, esclarecemos também o que é testamento vital e reafirmamos o direito da pessoa de exercer sua autonomia sobre procedimentos invasivos e técnicas de reanimação que deseje ou não que lhe seja imputados. A família também é sensibilizada para respeitar a opção religiosa da pessoa que está sob cuidados paliativos, independente da diversidade de credos religiosos e até da inexistência desses por outros familiares. São também orientados a, na medida do possível, solicitar visita de lideranças religiosas em conformidade com a opção da pessoa idoso, evitando violação e intolerância religiosas, diante da vulnerabilidade física da mesma. Nos casos em que o óbito antecede nossa visita (tendo nós conhecimento ou não do mesmo), verificamos se há necessidade de encaminhamento do familiar para algum serviço de Saúde Mental disponível na rede assistencial do município, fornecemos orientações cartorárias e previdenciárias e fortalecemos o vínculo com a família que como dito no início, praticamente inexistia.
Resultados
Melhor vinculação da população descoberta da ESF com a "miniequipe", reforçando o compromisso de um serviço público, gratuito e humanizado. Garantia, em muitos casos de conforto espiritual, mediante sensibilização da família da importância desta dimensão, especialmente durante a fase de terminalidade humana; Redução (não mensurada, mas verbalmente expressa) do esgotamento mental do cuidador; Alívio do sofrimento, inclusive com relatos de controle de ansiolíticos, depois que medida paliativas como as exemplificadas na fase de implantação foram introduzidas; Intensificação do autocuidado das duas profissionais que solidariamente incorporaram esta modalidade e passaram a repensar o limiar vida/morte sob outra perspectiva.

Ficha técnica

Município:
Aracaju
Instituição Responsável:
Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju
Coordenação da experiência:
Rosely Anacleto de Jesus Morais de Almeida
Email da coordenação:
ranacleto.1@hotmail.com
Telefone institucional:
(79) 3711-5000
Esfera da experiência:
Grupo B - Municípios
Categoria da experiência:
Atenção à saúde da pessoa idosa no ambiente domiciliar
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Telefone: (61) 3315-6226
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