Introdução Os territórios de abrangência do NASF Sudoeste possuem um grande número de usuários acima de 60 anos. Sabe-se que o fato de envelhecer acarreta em alterações na velocidade de processamento das informações, propiciando um tempo maior para ler, compreender e memorizar dados (Souza et al., 2010). A memória se envolve diretamente e está constantemente presente em todas as atividades do ser humano, sendo necessária para todas as ocasiões, desde a realização de uma tarefa complicada, até atividades do cotidiano, como um simples diálogo (Gomes, 2007). Em conversa com idosos que participavam de grupos de atividade física, foram identificadas diversas queixas relacionadas à perda de memória, esquecimento e falta de atenção. No decorrer do processo de envelhecimento são comuns essas queixas, principalmente quando as dificuldades de memória afetam as relações sociais ou quando prejudicam tarefas importantes. O fato de o idoso estar inserido em um ambiente onde ele se mantenha ativo, realizando atividades de vida diária, exercícios físicos, atividades culturais, religiosas, mantendo contato com familiares e amigos, parece estar contribuindo como um fator de proteção de suas condições cognitivas. (Souza et al., 2010). Pesquisas mostram que quando estimulados, os idosos podem apresentar melhor desempenho em tarefas cognitivas. O treino cognitivo consiste em atividades de estimulação de diversas funções cognitivas como atenção, memória, linguagem e velocidade de processamento (Golino e Flores-Mendoza, 2016). Além do grande número de queixas relatadas em relação à perda de memória, foi verificada escassez de grupos voltados ao público idoso nos territórios de abrangência do NASF Sudoeste. O crescimento da população idosa tem sido um desafio para o mundo e para as autoridades, pois demandam mais serviços e, consequentemente, consomem mais custos do setor de saúde. Portanto é indispensável investimento na prevenção do declínio cognitivo, doenças crônicas e demências, com o objetivo de manter o idoso, pelo máximo de tempo possível, com autonomia e qualidade de vida (Machado et al., 2011).
REFERÊNCIAS:
SOUZA, Valéria Lopes de et al . Perfil das habilidades cognitivas no envelhecimento normal. Rev. CEFAC, São Paulo , v. 12, n. 2, p. 186-192, Apr. 2010 . Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v12n2/98-08.pdf
GOMES, Juliana Oliveira. A memória e suas repercussões no envelhecimento saudável. Monografia. Departamento de psicologia. Universidade Federal de Juiz de Fora, 2007. Disponível em http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/145.pdf
GOLINO, Mariana Teles Santos; FLORES-MENDOZA, Carmen Elvira. Desenvolvimento de um programa de treino cognitivo para idosos. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio de Janeiro , v. 19, n. 5, p. 769-785, Oct. 2016 . Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v19n5/pt_1809-9823-rbgg-19-05-00769.pdf
MACHADO, Juliana Costa et al . Declínio cognitivo de idosos e sua associação com fatores epidemiológicos em Viçosa, Minas Gerais. Rev. bras. geriatr. gerontol., Rio de Janeiro , v. 14, n. 1, p. 109-121, Mar. 2011 . Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbgg/v14n1/a12v14n1.pdf
Objetivos Preservar ou melhorar o desempenho das funções cognitivas como memória, atenção, raciocínio, capacidade de resolução de problemas, entre outras; prevenir o declínio cognitivo; promover hábitos de vida saudáveis (leitura, escrita,entre outros); desenvolver confiança, autonomia, auto estima.
Público alvo Idades entre 62 e 89 anos, 95% mulheres, sem patologias neurológicas, sem declínios cognitivos, escores adequados no Mini Mental, escolaridade entre 3 e 11 anos, escores indicando quadro psicológico normal na Escala de Depressão Geriátrica em sua maioria.
Divulgação A divulgação foi feita em reuniões de equipe e sala de espera das Unidades Básicas de Saúde dos territórios de abrangência do NASF Sudoeste, nos Conselho Locais de Saúde e em grupos de atividade física.
Número de participantes 36
Atividades Cada encontro foi organizado previamente através de um cronograma de atividades, com horários e datas preestabelecidas.
1º Encontro: aplicação individual de protocolos de rastreio cognitivo (Mini Mental, Escala de Lawton, Escala de Depressão Geriátrica Abreviada, Desenho do Relógio), com data e horário estipulados previamente. Os protocolos estão disponíveis nos Cadernos de Atenção Básica – Envelhecimento e Saúde da Pessoa Idosa (BRASIL, 2006)
2° Encontro: Cada usuário deveria se apresentar ao grupo e falar cinco características com a letra inicial de seu nome, sendo que essas características poderiam ser suas ou não. Posteriormente foi fornecida imagem abstrata de um cenário com pessoas em um café, sendo solicitado que cada um identificasse e escrevesse algo relacionado à imagem com cada letra do alfabeto.
3º Encontro: Atividade com Tangram, que consiste em um quebra-cabeças geométrico chinês formado por 7 peças: 2 triângulos grandes, 2 pequenos, 1 médio, 1 quadrado e 1 paralelogramo. Utilizando todas essas peças sem sobrepô-las, se pode formar várias figuras. Foram exibidas algumas imagens com as peças do Tangram, uma de cada vez, para que os idosos replicassem a composição.
4º Encontro: Foi solicitado que cada integrante trouxesse uma reportagem de casa, de algum tema de seu interesse. Durante o encontro, cada usuário discorreu sobre sua reportagem, proporcionando discussões acerca de variados temas. Posteriormente foi realizada atividade com sequência de retângulos coloridos, que deveriam ser memorizados e colocados em ordem.
5º Encontro: Utilização do jogo Adedonha (Stop), com intuito de desenvolver rapidez de raciocínio, concentração e memória.
6º Encontro: Foi solicitado que cada participante trouxesse de casa uma fotografia. Durante o encontro, cada integrante escreveu sobre ela e sobre o momento em que ela havia sido registrada, explicando também o motivo de escolha da fotografia. O objetivo é que através dos relatos sobre a escolha da fotografia, possam ressignificar os sentimentos despertados e se identificarem entre os pares sobre a questão da passagem do tempo/envelhecimento.
7º Encontro: Utilização de jogo dos “7 erros”, com objetivo de desenvolver atenção e inteligência espacial. Posteriormente foi realizada atividade similar ao teste de Stroop, que avalia atenção seletiva, concentração e velocidade de processamento.
8º Encontro: Exibição do filme “O Extraordinário” (título original “Wonder”, Paris Filmes).
9º Encontro: Foi realizado questionário escrito com perguntas de interpretação, com intuito de verificar o entendimento dos usuários a respeito do filme e para promover discussão sobre assuntos relacionados (desafios da vida, perdas, preconceito, superação, entre outros).
10º Encontro: Atividade com ditados populares de “emojis”. As imagens traziam uma sequência que, implicitamente, se referia a um ditado popular, proporcionando uma atividade de concentração e raciocínio lógico.
11º Encontro: Foram fornecidas figuras aleatórias para cada integrante e este não deveria mostrá-las aos colegas. Cada um deveria escrever três características sobre cada figura recebida e os integrantes do grupo deveriam adivinhar qual era a imagem. O objetivo é trabalhar com memória, associação livre e criatividade.
12º Encontro: Atividade musical, na qual as coordenadoras do grupo falavam uma palavra e os participantes deveriam falar alguma música contendo a palavra alvo. A música alvo era escolhida previamente e o integrante que acertasse essa música ganhava mais pontos.
13º Encontro: Foi realizada atividade de raciocínio lógico, atenção e concentração, onde os usuários recebem sequências de círculos coloridos e devem localizar, em uma prancha, a mesma sequência e encaixá-las.
14º Encontro: Utilizados três quebra-cabeças geométricos com dificuldade ascendente, onde as peças deveriam ser encaixadas sem sobrar espaços entre elas e sem sobrepô-las.
15º Encontro: Atividade com perguntas de família. São oferecidas diversas cartas, cada uma com uma pergunta pessoal (ex: nome da professora da primeira série, melhor viagem que fez, quem é o mais teimoso da família). O participante, escolhe uma carta (sem saber da pergunta) e realiza a pergunta ao colega sentado a sua esquerda. O objetivo é desenvolver o vínculo e interação entre o grupo, onde cada integrante compartilha sua história de vida de forma lúdica.
16º Encontro: Exibição do filme “Um Senhor Estagiário” (título original “The Intern”, Warner Bros.).
17º Encontro: Foi realizado questionário escrito com perguntas de interpretação, com intuito de verificar o entendimento dos usuários a respeito do filme e para promover discussão sobre assuntos relacionados (envelhecimento, perdas e ganhos relacionados a essa fase da vida, preconceito, superação, entre outros).
18º Encontro: Atividade de raciocínio lógico e atenção concentrada. Os participantes deveriam seguir uma sequência de setas para encontrar o enigma. Posteriormente, foi realizada atividade com sequência de números coloridos que correspondem a sílabas e que, ao final, formavam palavras.
19º Encontro: Reaplicação dos protocolos com cada integrante separadamente (Mini Mental, Escala de Lawton, Escala de Depressão Geriátrica Abreviada, Desenho do Relógio).
20º Encontro: Encerramento do grupo com confraternização (dinâmica com significado do nome de cada participante e entrega de fotografia do grupo como recordação).
Resultados Foi verificada maior participação dos idosos em outras atividades de promoção/prevenção, como grupos e educação em saúde. Através do grupo, foi possível identificar alguns idosos com declínio cognitivo, sendo realizados os encaminhamentos e acompanhamentos necessários com as equipes de ESF a qual pertenciam. Durante a realização dos grupos foi possível identificar diversas dificuldades na execução de algumas tarefas, bem como dificuldades de compreensão de algumas atividades – mesmo as mais simples. Isso proporcionou a discussão com as equipes de ESF sobre as informações passadas durante as consultas nas UBS e uso da caderneta do idoso, tendo iniciado o planejamento de estratégias para melhorar e simplificar a comunicação com essa população. Além disso, foi possível observar melhora na autoestima de alguns idosos ao avaliarmos a inserção desses em outras atividades sociais e/ou mudanças na rotina com intuito de cuidado. Com a realização do grupo Cérebro Ativo, identificamos a necessidade de outros espaços, voltados a esse perfil, que contemplassem a troca de sentimentos e experiências. A partir disso, as coordenadoras iniciaram o grupo quinzenal Papoterapia (roda de conversa para idosos).