2016
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Sudeste
Alfabetização para idosos: ferramenta na construção do processo de saúde

TÍTULO COMPLETO: Alfabetização para idosos: ferramenta na construção do processo de saúde

 

INTRODUÇÃO

A população envelheceu em um contexto sociopolítico pouco favorável. Por um lado, temos idosos que exerceram durante toda a vida atividades laborais desgastantes, principalmente na agricultura e produção artesanal, e que por isso não tiveram oportunidade de obter educação formal. Por outro, as mulheres envelheceram em uma época cujo papel social era voltado exclusivamente para os cuidados do lar, dos filhos e dos mais velhos, ficando constantemente à margem da educação formal.

Considerando estes fatores, o município tem hoje uma grande população analfabeta ou semianalfabeta, principalmente do sexo feminino. Importante notar que o analfabetismo também está relacionado a piores níveis socioeconômicos e à dificuldade de acesso aos serviços essenciais, garantidos pelo Estado.

Hoje o município tem grande demanda por parte dessa população para a realização de atividades de educação formal. É certo que esse dever seria, em geral, da secretaria de educação. Contudo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o envelhecimento ativo (no sentido inclusivo deste termo) é definido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas. A intenção é possibilitar que as pessoas experimentem seu potencial de bem-estar físico, social e mental ao longo de toda vida e que participassem na sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades - ao mesmo tempo, lhes fornecendo proteção, segurança e cuidado adequados quando necessário.

Também a s diretrizes da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa preconizam a promoção do envelhecimento ativo e saudável; a atenção integral e integrada à saúde da pessoa idosa; a formação e a educação permanente dos profissionais de saúde do SUS na área de saúde da pessoa idosa; o estímulo à participação e fortalecimento do controle social; estímulo às ações intersetoriais, visando à integralidade das ações; e o provimento de recursos capazes de assegurar a qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa.

Nesse sentido, cabe também aos equipamentos de saúde, inclusive ao Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG-JEM), promoverem uma visão positiva do envelhecimento, instrumentalizando o idoso para que seja protagonista no exercício de cidadania, e também do seu processo de saúde, bem estar e qualidade de vida; e desenvolverem estratégias de promoção de saúde e prevenção de doenças, atentando-se para as peculiaridades do público idoso, tais como a presença de analfabetismo, necessidade de adequação da linguagem, do tamanho das ilustrações, da utilização das experiências pregressas e da existência de tabus que constituem barreiras a serem transpostas nas ações de educação em saúde.

Ao abrirmos o serviço, notamos a dificuldade de alguns idosos, devido ao analfabetismo, em lerem receitas médicas, embalagens de medicamentos, orientações escritas para procedimentos de exames, consultas em outros serviços e todos os aspectos que envolvem o cuidado com a saúde. Estas situações contribuem para a redução da adesão ao tratamento, para a falta de conhecimento sobre dicas de saúde e prevenção, e pode até gerar riscos à saúde, diante da tomada inadequada de medicamentos, da compreensão equivocada das informações e perda de consultas e atendimentos.

A alfabetização constitui-se uma poderosa ferramenta para a manutenção, prevenção e/ou recuperação da saúde para qualquer indivíduo. No caso da velhice, esta importância aumenta em situações de indivíduos morando sozinhos, idosos cuidando de idosos, ou de familiares que passam a maior parte do dia longe de seus idosos.

Outro aspecto observado foi a dificuldade de alguns idosos ao participarem das atividades do Infocentro, existentes na unidade. Inicialmente os idosos se interessaram muito pela atividade, para aprenderem a manusear o computador, a internet, redes sociais etc. No entanto, notou-se que os idosos começavam a se desinteressar pela atividade. Ao investigarmos o motivo, identificamos elevada proporção de idosos analfabetos.

Deste modo, entendemos a importância de proporcionarmos oportunidades de alfabetização, para que então estes idosos pudessem se beneficiar da inclusão digital, entre todos os outros motivos já apontados anteriormente.

 

OBJETIVOS

Com a iniciativa esperava-se favorecer a formação crítica do idoso, para que tenha condições de manter-se ativo e com maior inserção social, com potencialidade de articulação, de exigir mais respeito, dignidade e o cumprimento de seus direitos. Promover a interação e a valorização em diferentes formas de construção do conhecimento, eliminando barreiras, questionando os mecanismos de segregação e vislumbrando novos caminhos que possibilitem a permanência ativa da pessoa idosa na sociedade através de aquisição de novas aprendizagens, do desenvolvimento cognitivo e da inclusão social.

PÚBLICO-ALVO

Idosos analfabetos ou semianalfabetos, de ambos os sexos, atendidos pelo Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia “José Ermírio de Moraes” (IPGG-JEM).

 

ATIVIDADES 

Desde 2002, o programa de alfabetização existe na unidade. A falta de domínio do uso da leitura e da escrita é um entrave na aquisição e no desenvolvimento de habilidades. Outra constatação foi de que os idosos se sentem envergonhados em admitir o próprio analfabetismo, o que inibe sua participação em outros cursos educacionais. Desta forma, por sermos um equipamento de saúde voltado ao atendimento exclusivo à pessoa idosa, a identificação com seus pares facilitou a participação destes idosos no curso de alfabetização, ao se sentirem acolhidos pela instituição, um espaço legitimado e reconhecido para o idoso.

As atividades começaram em 2002, com um grande número de idosos que precisavam ser alfabetizados. Inicialmente os idosos foram distribuídos em 6 turmas de 20 alunos. Ao término do ano, as turmas se renovavam e os idosos que procuravam a atividade ao longo do ano tinham de se inscrever e aguardar a próxima turma.

No entanto, entre 2008 e 2009, notou-se uma mudança no perfil do idoso, havendo maior número de desistências. Os idosos alegavam que precisavam cuidar dos netos, estar disponíveis para ajudar os filhos, alguns começaram a adoecer. Optou-se então por admitir os idosos nas turmas a qualquer momento do ano, para reduzir as desistências.

Atualmente, há idosos com sequela de acidente vascular encefálico, Doença de Parkinson, e até foi detectado um caso de dislexia. São usados painel de sílabas e vogais, alfabeto, uso de palavras que pertencem ao cotidiano do idoso para aprender novas palavras, ressaltando o valor da educação informal, de suas vivências, como repertório para a educação formal. Aos poucos, houve ampliação dos assuntos e disciplinas, como conhecimentos matemáticos, interpretação de problemas, simulando situações cotidianas que envolvem finanças, trocas monetárias. Atualmente há turmas para alfabetização, mas também turmas correspondentes aos 2os. e 3os. anos do Ensino Fundamental I.

 

EQUIPE

Coordenação

02 professores

 

EQUIPAMENTOS E RECURSOS

As ações foram executadas com recursos do IPGG-JEM.

01 sala de aula;

01 lousa;

20 carteiras.

 

Materiais disponibilizados pela SES:

Cadernos

Lápis

Borrachas

Papel sulfite

EVA

Materiais visuais para adequação de aulas

 

RESULTADOS

 “Os analfabetos são aqueles que não sabem se relacionar, criticar, interpretar e interagir com o seu meio” (Paulo Freire). Baseado na política educacional de Paulo Freire, estes idosos após o curso, empoderados de novas competências, utilizam deste saber como instrumento de resgate da cidadania, reforçando seu engajamento nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social. Durante as aulas de alfabetização, os idosos melhoraram sua coordenação motora fina, diante do treino contínuo da escrita. Mesmo aqueles que nunca tinham usado um lápis, obtiveram progressos rápidos, aprimorando a grafia das palavras. Os idosos são constantemente estimulados a desenvolverem leitura, a partir de palavras que pertencem ao seu vocabulário cotidiano. Hoje, os idosos já conhecem os ônibus pelo nome e não pela cor, reconhecem os letreiros, reduzindo a dependência para realizar atividades relacionadas ao autocuidado e também aquelas sociais e de lazer. Esta sensação de empoderamento contribuiu muito na melhora da autoestima, da autoimagem e para a valorização do idoso como protagonista do seu processo de envelhecimento. As famílias foram incluídas neste processo, sendo incentivadas a se aproximarem dos idosos, a compreenderem o processo de envelhecimento e a valorizar a iniciativa de aprendizado, com elogios, vista dos cadernos e atividades produzidos nas aulas, bem como a participação e o envolvimento das famílias nas festividades e na formatura. (confecção enfeites, materiais etc). A alfabetização também proporcionou a inserção dos idosos nos diálogos, estimulando a conversação em família, melhorando assim o relacionamento familiar, a partir de valores como a tolerância, a paciência, o respeito e a admiração das diferentes gerações.

Ficha técnica


Município: 
São Paulo

Instituição Responsável: 
Instituto Paulista de Geriatria e Gerontologia "José Ermírio de Moraes"


Coordenador da experiência: 
Nilton Guedes

Email da coordenação: 

Telefone institucional: 
11 20304052

Beneficiados: 
população idosa


Categoria da experiência: 
Promoção da saúde da pessoa idosa (práticas corporais e atividades físicas, alimentação e nutrição, experiências inovadoras de educação em saúde etc.)

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Coordenação de Saúde da Pessoa Idosa/DAPES/SAS/MS
Telefone: (61) 3315-6226
idoso@saude.gov.br