Ano: 
2019
Categoria: 
Atividades do setor Saúde indutoras da participação social da pessoa idosa (grupos de convivência; atividades culturais, artísticas, de recreação e lazer; ações intergeracionais; atividades que estimulem a participação na vida comunitária e cidadã; contro
Região da Prática: 
Sudeste
Município: 
Belo Horizonte
Instituição Responsável: 
Prefeitura de Belo Horizonte – Secretaria Municipal de Saúde
Coordenação da experiência: 
Neire de Castro Araújo – Técnica em Higiene Dental da UBS Padre Eustáquio
Telefone institucional: 
(31) 3277-8306
Email da coordenação: 
neireaj@gmail.com
Qual a esfera da experiência?: 
Grupo B - Municípios
O que motivou a realização dessa experiência?: 
O Grupo Vida Longa, convivência da terceira idade, existe há 22 anos, coordenado pela equipe da UBS Padre Eustáquio. É um grupo de promoção à saúde, ao envelhecimento ativo e saudável. Busca a melhoria e manutenção da autonomia, da independência e da qualidade de vida das pessoas idosas. São desenvolvidas diferentes atividades, elaboradas a partir da demanda do grupo. A coordenação do grupo, juntamente com seus integrantes, elabora um projeto de atividades a serem desenvolvidas ao longo de cada ano. A ideia de trabalhar com teatro surgiu em 2014, motivada pelo desejo das pessoas idosas em representar uma peça, que era um sonho de muitas delas. Além disso, o teatro contribui com vários aspectos do envelhecimento: autonomia, atividade cognitiva, superação, ressignificação de experiências de vida, descoberta de novas habilidades, cidadania, protagonismo, solidariedade.
O que se esperava modificar ou realizar através da iniciativa?: 
Os objetivos da proposta são: Promover a funcionalidade e a participação social; Valorizar e exercer o protagonismo da pessoa idosa; Estimular a cognição, a expressão e a consciência corporal por meio de atividades que envolvessem a memória, a atenção, a criatividade, a linguagem, a orientação para realidade, oportunidades de aprendizagem, ressignificação de crenças e reconhecimento de emoções; Estimular a autoeficácia (crença que um indivíduo tem em ser capaz de realizar uma tarefa específica); Reforçar a solidariedade entre os integrantes.
Descreva as metas para o desenvolvimento da experiência (de 1 a 4, no maximo): 
Meta 1: Promover a participação de pessoas idosas integrantes do grupo de convivência na concepção e apresentação de peças de teatro.
Meta 2: Apresentar uma peça para grupos de idosos
Meta 3: Promover a autoeficácia dos participantes do grupo Vida Longa.
Meta 4: Ampliar o repertório de experiências de superação dos participantes do grupo.
Qual o perfil dos idosos envolvidos nessa experiência?: 
Foram convidados todos os 22 idosos integrantes do Grupo Vida Longa. Todas são mulheres, com idade entre 60 e 90 anos, a maioria são viúvas, residem sozinhas e têm renda como aposentadas ou pensionistas. As condições de saúde mais comuns são as doenças cr
De que forma a experiência foi divulgada ao público?: 
A ação foi divulgada para os serviços de atenção básica em saúde da Regional Noroeste, em reunião com gerentes das unidades e com as equipes. Na UBS Padre Eustáquio, a divulgação se deu em sala de espera, nos grupos operativos existentes e em reuniões com
Onde foi desenvolvida?: 
A experiência é desenvolvida na UBS Padre Eustáquio, regional noroeste do município de Belo Horizonte e apresentada em teatros da cidade de Belo Horizonte, na Conferência Municipal de Direitos da Pessoa Idosa, na PUC Minas.
Como os idosos foram selecionados para participar?: 
A seleção se deu pelo interesse dos idosos em representar e participar da atividade teatral. As 22 pessoas integrantes do grupo concordaram em participar.
Quantos idosos pretendiam alcançar com essa experiência?: 
300
Quantos idosos participaram da experiência, por ano de atividade?: 
O projeto foi desenvolvido em 2014 e participaram da preparação, ensaios e apresentação da peça, os 22 idosos do Grupo Vida Longa. Nas apresentações da peça no teatro da cidade, participaram 500 pessoas entre idosos, adultos, jovens e crianças. Fragmentos da peça foram apresentados na Conferência Municipal da Pessoa Idosa em BH onde participaram delegados idosos e adultos.
Ao final, ou até o momento, quantos idosos participaram da experiência?: 
22
Qual o principal motivo da saída dos idosos nas atividades da experência? Porque deixaram de participar?: 
Durante o processo de preparação, ensaio e apresentação da peça, não houve saída de nenhum membro do grupo.
Descreva detalhadamente como eram as atividades realizadas: 
Atividade 1: Em reunião do Grupo Vida Longa realizada no início do ano de 2014, foi elaborada a proposta de trabalhar com teatro. Atividade 2: Nas reuniões do grupo, os integrantes foram divididos em pequenos grupos para pensarem o tema que serviria de base para elaboração do texto da peça. O tema estava relacionado às situações vividas pelo idoso no cotidiano, que retratassem o respeito a sua autonomia e situações familiares. Foi solicitado a cada integrante que escrevesse algo sobre o tema proposto para ser discutido no próximo encontro. Fragmentos de textos foram apresentados para uma possível criação de uma peça teatral. Á partir daí, durante o ano de 2014, o próprio grupo coordenou reuniões e produziu pequenas apresentações. A coordenação realizou oficinas de voz, de canto, de memória, de expressão corporal, trabalhou timidez, medos, orientações nutricionais e saúde bucal. No entanto, para a realização da peça e elaboração do texto, a coordenação percebeu que havia necessidade de alguém com experiência em teatro. Atividade 3: A proposta de montagem de uma peça de teatro com um grupo de idosas foi apresentada para um diretor de teatro e feito o convite para contribuir voluntariamente com o projeto. O mesmo se colocou prontamente à disposição. Participou de um dos encontros do grupo, onde foi apresentado e aceito como colaborador. Destacamos aqui que o diretor convidado tinha, à época, 17 anos proporcionando uma rica troca intergeracional, que ocorreu com grande maestria. O diretor propôs apresentação de um pequeno esquete intitulada “As Marias” na confraternização de fim de ano dos grupos realizados pela UBS, para que pudesse conhecer um pouco mais os talentos e características dos integrantes do grupo. A apresentação foi realizada em equipamento municipal e da comunidade em dezembro de 2014. Atividade 4: Em 2015, foi retomado o projeto de apresentação de uma peça teatral. O tema proposto em 2014 e os fragmentos de textos elaborados pelos integrantes do grupo, foram apresentados ao diretor para que pudesse escrever o roteiro. O mesmo sugeriu que a peça fosse dividida em esquetes para que todos pudessem participar como atores. Além disso, os textos ficariam menores, facilitando a memorização, a marcação de palco, a atuação e um menor tempo dos idosos em cena. Atividade 5: O diretor inicia seu trabalho de preparação dos atores para a peça. Para isso ele realiza oficinas próprias de teatro: técnicas próprias de teatro, entonação de voz, criação de estórias, trabalho em duplas, pequenas apresentações, estímulo a assistir espetáculos em cartaz na cidade; oficinas de arte para construção do cenário, dramatizações, expressão corporal. Paralelamente ao trabalho com o grupo, o diretor escrevia o texto que era discutido pelas coordenadoras, para que fizessem as observações necessárias para a reescrita do mesmo. Ao distribuir os papeis e as falas entre os atores outras mudanças eram sugeridas e acatadas pelo diretor. Assim, o texto foi finalizado em uma construção conjunta: diretor, atores e coordenação. O texto foi dividido em 5 esquetes que retrataram situações e temas do cotidiano do envelhecimento, na qual cada cena buscou levar ao público uma reflexão sobre a vida, sem perder o bom humor. A peça foi intitulada “Na veia das velhas”. Os temas dos esquetes foram: 1) A jovem velha: “Miranda se recusa a aceitar que o tempo passou, morre de medo da velhice. Mas junto com sua fiel empregada, aprende a lidar com a tecnologia, se apaixona por um jovem que valoriza o envelhecimento e faz com que ela aceite uns aninhos a mais. ” 2) A morte: “Um grupo de lavadeiras é surpreendido com a inesperada visita da morte, dando início a uma verdadeira “lavação de roupa suja” para definirem quem a morte levará. Mesmo sabendo que a morte é certa, ninguém se candidata. A morte vendo a vitalidade das idosas, adia o chamado. ” 3) Perua de Deus: “Eva uma mulher sem papas na língua é apresentadora de um programa de TV que recebe uma convidada (psicóloga) desequilibrada e nada relevante para a vida do telespectador é discutido no programa. A cena termina com a apresentadora dizendo: “nem tudo que a gente vê na TV é fantástico”. 4) Ovelha negra: “Esta cena retrata a convivência intergeracional, onde filha adolescente e mãe não se entendem. A mãe tem dificuldade em aceitar as escolhas de vida da filha, incluindo sua profissão e relacionamento com amigos e namorado. No final, a mãe se reporta à sua própria vida, onde não teve as mesmas oportunidades da filha e passa a aceitar suas escolhas. ” 5) Bordel: “Em um bordel da cidade, as prostitutas envelheceram mas mantêm o desejo sexual e ainda descobrem que existem novas formas de amar.” 6) Todos os atores se apresentam no palco. Um grupo de pessoas idosas, lê uma mensagem para a plateia em forma de jogral se reportando a cada cena: tipos de família, relação familiar, sentimentos na velhice, encontro de gerações, rótulos impostos pela sociedade. Além desses temas, propunham ampliar as atividades costumeiramente realizadas pelas pessoas idosas como viagem a Caldas Novas, bingo e bailes. A fala é finalizada com: “o importante é se permitir a amar, se permitir a ser feliz, se permitir a viver.” Finalmente o grupo cantou a música “ O que é, o que é” de Gonzaguinha. Atividade 6: A coordenação do Grupo Vida Longa pensou em programar as apresentações em grupos da UBS, em equipamentos da cidade e eventos para idosos. No entanto, o diretor coloca o desafio de apresentar em um teatro oficial da cidade, por dois dias. Desafio aceito, iniciaram os contatos com teatro, equipe de produção do espetáculo, de produção de material de divulgação e venda de ingressos. O espetáculo foi apresentado em duas noites com a capacidade máxima do teatro esgotada (250 lugares). Um sucesso, mas mais do que isso a realização de um sonho. Atividade 7: Em reunião do grupo após a apresentação da peça, foi realizada uma avaliação de todo o processo vivenciado com a produção e apresentação do espetáculo.
Descreva quais as dificuldades encontradas para realização das atividades.: 
No preparo da peça e nos ensaios, algumas pessoas tiveram dificuldade em aceitar o texto e diferenciar sua vida da vida do personagem, o que foi superado com as intervenções do diretor e da coordenação. A maior dificuldade foi a falta de recursos financeiros para custear o espetáculo. Com isso o grupo arcou com parte das despesas e foi necessária a venda de ingressos.
Quais foram os resultados observados depois da implementação?: 
O teatro foi uma experiência ímpar para todos os atores da peça e para seus familiares. Segundo relatos das pessoas idosas, todo esse processo provocou reação dos familiares sobre o talento, a capacidade de superação e a quebra de paradigmas. Foi surpreendente para a família, ver o idoso no palco com desenvoltura e retratando temas polêmicos para a sua geração. Familiares relataram a sua emoção, especialmente das crianças e jovens ao verem seus avós no palco. Por outro lado, os avós se sentiram realizados e felizes por este reconhecimento. A idosa MP relata: “tive sensações físicas de mal-estar e como foi uma experiência de superação, devido questões pessoais em relação ao meu papel na peça e a relação de homossexualidade” (a idosa vivenciava a aceitação de uma relação homoafetiva na família. O seu personagem contribuiu para esta aceitação). O diretor observou o crescimento de cada uma nos ensaios e no primeiro e segundo dia de espetáculo. A idosa I, destaca que inicialmente alguns textos foram “chocantes” devido a certas crenças. O teatro possibilitou a aceitação dessas crenças, a enxergar o “falso pudor” (sic) e a arte como possibilidade de mudança de paradigmas. A idosa ES relata que ficou “mais leve e alegre” em todo o processo de construção do teatro. A idosa S, não se propôs a fazer parte dos esquetes, devido a sua timidez. No entanto, participou de todo o processo de preparação da peça e isso fez com que se dispusesse a fazer parte do jogral final. A superação foi tão grande que ela se emociona ao dizer o texto. Ela relata: “Este grupo mudou a minha vida. Eu jamais subiria em um palco, tamanha a minha timidez”. Hoje a idosa participa de todas as atividades propostas no grupo de forma ativa. O projeto possibilitou ainda:  Superação da timidez  Empatia  Compromisso  Despertar de talentos  Auto confiança  Superação de dificuldades  Empoderamento  Flexibilidade Para a coordenação do grupo, o teatro também foi uma novidade e um grande aprendizado. O projeto fez pensar o envelhecimento como despertar de talentos e possibilidades. Reforçou a confiança no Grupo Vida Longa como um grupo que pode abrir novas oportunidades com ousadia e alegria. Experienciar a cochia foi um aprendizado nesta arte do teatro. Observou-se mudança no modo de ser e viver o envelhecimento em todas as pessoas que participaram da peça. Além disso, observamos superação de paradigmas e crenças limitantes por trazer a pessoa idosa para discussões de temas da atualidade. A experiência mostrou que as pessoas idosas participantes do teatro poderiam escolher a tranquilidade, o sossego e o comodismo de sua rotina de atividades. No entanto, abraçaram o teatro como uma nova filosofia de vida assumida para caminhar e viver a velhice com lucidez, responsabilidade e alegria. Este projeto teve ainda como resultado, a formação de um grupo de teatro autônomo que se nomeou “ Na veia das velhas”, que conta a participação de 50% dos integrantes do Grupo Vida Longa e de integrantes dos outros grupos desenvolvidos pela UBS Padre Eustáquio. Este novo grupo de teatro já apresentou mais 3 peças teatrais na cidade, após o ano de 2015.
Descreva os resultados observados de acordo com as metas previstas: 
100% das pessoas idosas do grupo participaram da atividade
Superou a meta, uma vez que a peça foi apresentada em um teatro da cidade, em conferências e eventos da PUC Minas
Todos os integrantes se superaram com a experiência do teatro: quebraram paradigmas; decoraram textos; aprenderam a técnica do teatro e conseguiram subir ao palco
As pessoas idosas do grupo desenvolveram novas habilidades, descobriram talentos, superaram dificuldades, resinificaram vivências e mostraram para a cidade novas possibilidades para o envelhecimento
Descreva em forma de indicadores quantitativos (números, proporções, taxas) os resultados alcançados pela experiência.: 
100% de idosos beneficiados. Afinal, todos se propuseram a participar e, de alguma forma, foram influenciados pela experiência.
Existe equipe responsável pelo monitoramento/avaliação da experiência?: 
Não
Com que frequência se reúne?: 
A avaliação foi realizada logo após o evento, em reunião do Grupo Vida Longa com os resultados já apresentados. Por ser um projeto pontual do grupo, o mesmo foi encerrado com a apresentação da peça, por isso não há monitoramento.
Quais os pontos positivos da experiência?: 
Além do que foi dito nas metas alcançadas, a experiência proporcionou aos idosos o seu protagonismo, o resgate de relações familiares,o estímulo a autoeficácia, a autonomia, a alegria e a ampliação do repertório de atividades.Além disso, foi uma oportunidade para a introdução ou ampliação da arte na vida dessas pessoas e da coordenação do grupo;possibilidade de mostrar para uma cidade que envelhecer pode ser uma oportunidade de pensar no existir, recriar, expandir-se, dar vida à vida e encantar.
Quais as limitações da experiência?: 
Os possíveis dificultadores intrapessoais que algumas participantes apresentaram (ex: dificuldade em memorização do texto, dificuldade em projeção vocal, deambulação etc), foram superados por meio de adaptações no texto ou personagem, orientações e treinamento.
2019
-
Sudeste
• A arte do teatro na vida de pessoas idosas integrantes do Grupo Vida Longa
Introdução
O Grupo Vida Longa, convivência da terceira idade, existe há 22 anos, coordenado pela equipe da UBS Padre Eustáquio. É um grupo de promoção à saúde, ao envelhecimento ativo e saudável. Busca a melhoria e manutenção da autonomia, da independência e da qualidade de vida das pessoas idosas. São desenvolvidas diferentes atividades, elaboradas a partir da demanda do grupo. A coordenação do grupo, juntamente com seus integrantes, elabora um projeto de atividades a serem desenvolvidas ao longo de cada ano. A ideia de trabalhar com teatro surgiu em 2014, motivada pelo desejo das pessoas idosas em representar uma peça, que era um sonho de muitas delas. Além disso, o teatro contribui com vários aspectos do envelhecimento: autonomia, atividade cognitiva, superação, ressignificação de experiências de vida, descoberta de novas habilidades, cidadania, protagonismo, solidariedade.
Objetivos
Os objetivos da proposta são: Promover a funcionalidade e a participação social; Valorizar e exercer o protagonismo da pessoa idosa; Estimular a cognição, a expressão e a consciência corporal por meio de atividades que envolvessem a memória, a atenção, a criatividade, a linguagem, a orientação para realidade, oportunidades de aprendizagem, ressignificação de crenças e reconhecimento de emoções; Estimular a autoeficácia (crença que um indivíduo tem em ser capaz de realizar uma tarefa específica); Reforçar a solidariedade entre os integrantes.
Metas
  1. Meta 1: Promover a participação de pessoas idosas integrantes do grupo de convivência na concepção e apresentação de peças de teatro.
  2. Meta 2: Apresentar uma peça para grupos de idosos
  3. Meta 3: Promover a autoeficácia dos participantes do grupo Vida Longa.
  4. Meta 4: Ampliar o repertório de experiências de superação dos participantes do grupo.
Público alvo
Foram convidados todos os 22 idosos integrantes do Grupo Vida Longa. Todas são mulheres, com idade entre 60 e 90 anos, a maioria são viúvas, residem sozinhas e têm renda como aposentadas ou pensionistas. As condições de saúde mais comuns são as doenças cr
Divulgação
A ação foi divulgada para os serviços de atenção básica em saúde da Regional Noroeste, em reunião com gerentes das unidades e com as equipes. Na UBS Padre Eustáquio, a divulgação se deu em sala de espera, nos grupos operativos existentes e em reuniões com
Número de participantes
22
Atividades
Atividade 1: Em reunião do Grupo Vida Longa realizada no início do ano de 2014, foi elaborada a proposta de trabalhar com teatro. Atividade 2: Nas reuniões do grupo, os integrantes foram divididos em pequenos grupos para pensarem o tema que serviria de base para elaboração do texto da peça. O tema estava relacionado às situações vividas pelo idoso no cotidiano, que retratassem o respeito a sua autonomia e situações familiares. Foi solicitado a cada integrante que escrevesse algo sobre o tema proposto para ser discutido no próximo encontro. Fragmentos de textos foram apresentados para uma possível criação de uma peça teatral. Á partir daí, durante o ano de 2014, o próprio grupo coordenou reuniões e produziu pequenas apresentações. A coordenação realizou oficinas de voz, de canto, de memória, de expressão corporal, trabalhou timidez, medos, orientações nutricionais e saúde bucal. No entanto, para a realização da peça e elaboração do texto, a coordenação percebeu que havia necessidade de alguém com experiência em teatro. Atividade 3: A proposta de montagem de uma peça de teatro com um grupo de idosas foi apresentada para um diretor de teatro e feito o convite para contribuir voluntariamente com o projeto. O mesmo se colocou prontamente à disposição. Participou de um dos encontros do grupo, onde foi apresentado e aceito como colaborador. Destacamos aqui que o diretor convidado tinha, à época, 17 anos proporcionando uma rica troca intergeracional, que ocorreu com grande maestria. O diretor propôs apresentação de um pequeno esquete intitulada “As Marias” na confraternização de fim de ano dos grupos realizados pela UBS, para que pudesse conhecer um pouco mais os talentos e características dos integrantes do grupo. A apresentação foi realizada em equipamento municipal e da comunidade em dezembro de 2014. Atividade 4: Em 2015, foi retomado o projeto de apresentação de uma peça teatral. O tema proposto em 2014 e os fragmentos de textos elaborados pelos integrantes do grupo, foram apresentados ao diretor para que pudesse escrever o roteiro. O mesmo sugeriu que a peça fosse dividida em esquetes para que todos pudessem participar como atores. Além disso, os textos ficariam menores, facilitando a memorização, a marcação de palco, a atuação e um menor tempo dos idosos em cena. Atividade 5: O diretor inicia seu trabalho de preparação dos atores para a peça. Para isso ele realiza oficinas próprias de teatro: técnicas próprias de teatro, entonação de voz, criação de estórias, trabalho em duplas, pequenas apresentações, estímulo a assistir espetáculos em cartaz na cidade; oficinas de arte para construção do cenário, dramatizações, expressão corporal. Paralelamente ao trabalho com o grupo, o diretor escrevia o texto que era discutido pelas coordenadoras, para que fizessem as observações necessárias para a reescrita do mesmo. Ao distribuir os papeis e as falas entre os atores outras mudanças eram sugeridas e acatadas pelo diretor. Assim, o texto foi finalizado em uma construção conjunta: diretor, atores e coordenação. O texto foi dividido em 5 esquetes que retrataram situações e temas do cotidiano do envelhecimento, na qual cada cena buscou levar ao público uma reflexão sobre a vida, sem perder o bom humor. A peça foi intitulada “Na veia das velhas”. Os temas dos esquetes foram: 1) A jovem velha: “Miranda se recusa a aceitar que o tempo passou, morre de medo da velhice. Mas junto com sua fiel empregada, aprende a lidar com a tecnologia, se apaixona por um jovem que valoriza o envelhecimento e faz com que ela aceite uns aninhos a mais. ” 2) A morte: “Um grupo de lavadeiras é surpreendido com a inesperada visita da morte, dando início a uma verdadeira “lavação de roupa suja” para definirem quem a morte levará. Mesmo sabendo que a morte é certa, ninguém se candidata. A morte vendo a vitalidade das idosas, adia o chamado. ” 3) Perua de Deus: “Eva uma mulher sem papas na língua é apresentadora de um programa de TV que recebe uma convidada (psicóloga) desequilibrada e nada relevante para a vida do telespectador é discutido no programa. A cena termina com a apresentadora dizendo: “nem tudo que a gente vê na TV é fantástico”. 4) Ovelha negra: “Esta cena retrata a convivência intergeracional, onde filha adolescente e mãe não se entendem. A mãe tem dificuldade em aceitar as escolhas de vida da filha, incluindo sua profissão e relacionamento com amigos e namorado. No final, a mãe se reporta à sua própria vida, onde não teve as mesmas oportunidades da filha e passa a aceitar suas escolhas. ” 5) Bordel: “Em um bordel da cidade, as prostitutas envelheceram mas mantêm o desejo sexual e ainda descobrem que existem novas formas de amar.” 6) Todos os atores se apresentam no palco. Um grupo de pessoas idosas, lê uma mensagem para a plateia em forma de jogral se reportando a cada cena: tipos de família, relação familiar, sentimentos na velhice, encontro de gerações, rótulos impostos pela sociedade. Além desses temas, propunham ampliar as atividades costumeiramente realizadas pelas pessoas idosas como viagem a Caldas Novas, bingo e bailes. A fala é finalizada com: “o importante é se permitir a amar, se permitir a ser feliz, se permitir a viver.” Finalmente o grupo cantou a música “ O que é, o que é” de Gonzaguinha. Atividade 6: A coordenação do Grupo Vida Longa pensou em programar as apresentações em grupos da UBS, em equipamentos da cidade e eventos para idosos. No entanto, o diretor coloca o desafio de apresentar em um teatro oficial da cidade, por dois dias. Desafio aceito, iniciaram os contatos com teatro, equipe de produção do espetáculo, de produção de material de divulgação e venda de ingressos. O espetáculo foi apresentado em duas noites com a capacidade máxima do teatro esgotada (250 lugares). Um sucesso, mas mais do que isso a realização de um sonho. Atividade 7: Em reunião do grupo após a apresentação da peça, foi realizada uma avaliação de todo o processo vivenciado com a produção e apresentação do espetáculo.
Resultados
O teatro foi uma experiência ímpar para todos os atores da peça e para seus familiares. Segundo relatos das pessoas idosas, todo esse processo provocou reação dos familiares sobre o talento, a capacidade de superação e a quebra de paradigmas. Foi surpreendente para a família, ver o idoso no palco com desenvoltura e retratando temas polêmicos para a sua geração. Familiares relataram a sua emoção, especialmente das crianças e jovens ao verem seus avós no palco. Por outro lado, os avós se sentiram realizados e felizes por este reconhecimento. A idosa MP relata: “tive sensações físicas de mal-estar e como foi uma experiência de superação, devido questões pessoais em relação ao meu papel na peça e a relação de homossexualidade” (a idosa vivenciava a aceitação de uma relação homoafetiva na família. O seu personagem contribuiu para esta aceitação). O diretor observou o crescimento de cada uma nos ensaios e no primeiro e segundo dia de espetáculo. A idosa I, destaca que inicialmente alguns textos foram “chocantes” devido a certas crenças. O teatro possibilitou a aceitação dessas crenças, a enxergar o “falso pudor” (sic) e a arte como possibilidade de mudança de paradigmas. A idosa ES relata que ficou “mais leve e alegre” em todo o processo de construção do teatro. A idosa S, não se propôs a fazer parte dos esquetes, devido a sua timidez. No entanto, participou de todo o processo de preparação da peça e isso fez com que se dispusesse a fazer parte do jogral final. A superação foi tão grande que ela se emociona ao dizer o texto. Ela relata: “Este grupo mudou a minha vida. Eu jamais subiria em um palco, tamanha a minha timidez”. Hoje a idosa participa de todas as atividades propostas no grupo de forma ativa. O projeto possibilitou ainda:  Superação da timidez  Empatia  Compromisso  Despertar de talentos  Auto confiança  Superação de dificuldades  Empoderamento  Flexibilidade Para a coordenação do grupo, o teatro também foi uma novidade e um grande aprendizado. O projeto fez pensar o envelhecimento como despertar de talentos e possibilidades. Reforçou a confiança no Grupo Vida Longa como um grupo que pode abrir novas oportunidades com ousadia e alegria. Experienciar a cochia foi um aprendizado nesta arte do teatro. Observou-se mudança no modo de ser e viver o envelhecimento em todas as pessoas que participaram da peça. Além disso, observamos superação de paradigmas e crenças limitantes por trazer a pessoa idosa para discussões de temas da atualidade. A experiência mostrou que as pessoas idosas participantes do teatro poderiam escolher a tranquilidade, o sossego e o comodismo de sua rotina de atividades. No entanto, abraçaram o teatro como uma nova filosofia de vida assumida para caminhar e viver a velhice com lucidez, responsabilidade e alegria. Este projeto teve ainda como resultado, a formação de um grupo de teatro autônomo que se nomeou “ Na veia das velhas”, que conta a participação de 50% dos integrantes do Grupo Vida Longa e de integrantes dos outros grupos desenvolvidos pela UBS Padre Eustáquio. Este novo grupo de teatro já apresentou mais 3 peças teatrais na cidade, após o ano de 2015.

Ficha técnica

Município:
Belo Horizonte
Instituição Responsável:
Prefeitura de Belo Horizonte – Secretaria Municipal de Saúde
Coordenação da experiência:
Neire de Castro Araújo – Técnica em Higiene Dental da UBS Padre Eustáquio
Email da coordenação:
neireaj@gmail.com
Telefone institucional:
(31) 3277-8306
Esfera da experiência:
Grupo B - Municípios
Categoria da experiência:
Atividades do setor Saúde indutoras da participação social da pessoa idosa (grupos de convivência; atividades culturais, artísticas, de recreação e lazer; ações intergeracionais; atividades que estimulem a participação na vida comunitária e cidadã; contro
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Telefone: (61) 3315-6226
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